quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Inaceitável aumento de 47% no desmatamento no Acre em 2016
* Ecio Rodrigues
Em 2016, o Acre ficou em segundo lugar entre os estados que mais destruíram a floresta na Amazônia, tendo ostentado a taxa absurda de 47% na ampliação do desmatamento.
Difícil acreditar que esse aumento escandaloso se deva à ocorrência de algum fenômeno climático – como é o caso do festejado El Niño, reiteradamente usado para justificar os sucessivos recordes mensais de queimadas ocorridos em 2016.
Apresentando números irrefutáveis, o Inpe, Instituto de Pesquisas Espaciais, calcula que a área desmatada no Acre entre agosto de 2015 a julho de 2016 foi a maior desde 2007.
Simplificando, em especial para os incrédulos, que rechaçam a tese de que a elevação do desmatamento pode não ser um fato isolado, mas sim uma tendência: há praticamente dez anos os produtores do Acre não convertiam uma área tão grande de floresta em plantios de capim, cana-de-açúcar e assim por diante.
Quer dizer, diante dessa perigosa tendência de alta, todos – especialmente os políticos e gestores públicos – deveriam ficar muito preocupados. E não bastasse o desmatamento em si, há mais duas razões que dão azo a muita apreensão.
Em primeiro lugar, essa alta ocorre num momento de retração econômica. Trata-se dum agravante mais que peculiar, uma vez que a economia vibrante da segunda metade da década de 2000 não se compara ao marasmo e à crise dos tempos atuais, quando até o pagamento de salários a servidores públicos é notícia.
Já a segunda razão é ainda mais grave. Acontece que o desmatamento no Acre assumiu uma nova dinâmica – que os órgãos responsáveis pelo monitoramento não conseguem sequer compreender, quanto mais controlar.
Essa nova dinâmica do desmatamento apresenta participação expressiva da pequena e média propriedade rural. E o que é mais preocupante: são propriedades que não se localizam, como antes acontecia, às margens das rodovias (principalmente BR 364 e BR 317).
Comprovado o aumento da participação da agricultura familiar, sobretudo a praticada ao longo dos rios e distante do eixo das rodovias, a conclusão simples é que não adianta investir em ações de fiscalização.
Nenhum poder de polícia estatal, pelo menos na história amazônica, conseguiu chegar até o produtor rural ribeirinho, aquele que vive próximo ou em função de algum rio.
E embora seja mais fácil constatar a ineficiência da fiscalização em relação ao desmatamento nas áreas mais afastadas das rodovias, a experiência demonstra que, a bem da verdade, temos uma dificuldade natural para fiscalizar e multar o produtor menos favorecido. Ou seja, por esse caminho não há chance de sucesso.
Decerto a fiscalização contribui para derrubar momentaneamente a taxa de desmatamento; todavia, só por meio duma política pública que forneça valor e preço à diversidade biológica e que remunere o produtor pela conservação da floresta, será possível uma solução definitiva – isto é, permanente e eficaz.
Desgraçadamente, como dizem os produtores, o Acre abortou a chance de zerar o desmatamento pela via da política florestal quando extinguiu, por razões nunca esclarecidas, a Secretaria Estadual de Florestas.
Uma chance perdida.
  

*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Projeto Reciclar: Uma iniciativa para difusão da educação ambiental em Xapuri - AC

Alana Chocorosqui Fernandes1; Ednilson Gomes Carneiro2

A questão ambiental está cada vez mais presente no cotidiano da sociedade, sobretudo no desafio da preservação da qualidade de vida da população. Nesta perspectiva, a Educação Ambiental tem papel fundamental, pois permite a discussão de temáticas que contribuem para a sensibilização e posterior mudança de atitude do indivíduo, que reflete sobre a melhoria de vida da comunidade. A conscientização sobre o correto destino do resíduo doméstico, sobre ações de reciclagem, compostagem e potencial econômico deste mercado surgem como necessidade para que a população se sensibilize e torne estas ações, cotidianas ao seu modo de vida, reduzindo seu impacto no meio ambiente e garantindo o uso dos recursos as gerações futuras.

Sendo assim, o Projeto Reciclar teve como objetivo, contribuir para melhoria das condições ambientais do município de Xapuri por meio da sensibilização sobre a não geração, redução, reutilização, reciclagem e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, utilizando a educação ambiental como ferramenta. 

Para isso foi conduzida extensa revisão bibliográfica sobre o assunto bem como firmada parcerias com instituições ambientais e docentes do campus para a realização de palestras, mini cursos e outras atividades de educação ambiental para atingir seu publico alvo, a comunidade acadêmica do IFAC, Campus Xapuri, no período de setembro de 2015 a julho de 2016.
 
Foram realizados um total de doze mini cursos, dos quais trataram temáticas sobre aproveitamento de resíduos, uso sustentável dos recursos hídricos, direito ao saneamento básico, conservação de pastagens e da natureza, compostagem como forma de redução do resíduo sólido, recuperação de áreas degradadas, destino do resíduo sólido, economia de recursos naturais e importância da reciclagem. Tivemos também um total de dezessete palestras que envolveram temas como ecoempreendedorismo, revolução industrial e o meio ambiente, biorremediação, cultura popular como ferramenta para conservação ambiental, importância da reciclagem, turismo como ferramenta ecológica, desenvolvimento sustentável, construção de composteira domésticas, restauração florestal e apresentação de dados sobre os aspectos ambientais do município de Xapuri. 

Além disso, foi trabalhada a exibição de vídeos sobre meio ambiente; realizada contação de história sobre lendas com temática ambiental; criado um blog para divulgação das ações do projeto e de temas relacionado a temática ambiental; realizada a feira do empreendedor jovem, com estimulo a novos negócios através do uso de produtos produzidos com material reciclável; o estimulo da coleta seletiva de pilhas e baterias; a coleta de óleo de cozinha usado para produção de produtos de limpeza caseiros; exposição de artigos indígenas e sua história de convivência com a natureza; e, como atividade de interação e exposição do projeto a comunidade, foi realizada passeata em defesa ao meio ambiente nas ruas do município, com a participação de escolas municipais, estaduais e do próprio campus com seus alunos do curso técnico integrado. 


Todas essas atividades envolveram cerca de 20 docentes, 15 técnicos e 30 alunos do curso de gestão ambiental diretamente no planejamento e organização das atividades. Foram envolvidos também os espaços do campus, como salas de aulas, auditório, biblioteca e laboratórios, aproximando a comunidade da instituição. No total, foram emitidas 555 declarações de participação em palestras e 187 declarações de participação em mini curso durante o projeto, além de contarmos com a participação de mais de 300 alunos do ensino fundamental que visitaram as atividades do projeto sem receberem certificação.

Considerando que a instituição conta hoje com cerca de 520 alunos, e possível perceber a abrangência do projeto sobre seu publico alvo. Sendo assim, observamos que o projeto Reciclar contribuiu para a melhoria das condições ambientais do município de Xapuri por meio da sensibilização da comunidade acadêmica através da extensão tecnológica sobre temáticas da educação ambiental, sendo portanto importante ferramenta para futuros projetos de gestão ambiental no município de Xapuri, Acre.


sexta-feira, 1 de julho de 2016


Semana de Meio Ambiente em Xapuri 


Em parceria com a Secretaria de Meio Ambiente, o IFAC, campus Xapuri participou das ações do município para comemoração dessa data. A seguir, reportagem do município, na integra, publicada em site da prefeitura disponível no link abaixo: 


http://xapuri.ac.gov.br/semana­do­meio­ambiente­encerra­com­passeata­em­xapuri­2/



É o projeto reciclar caminhando com a sociedade!


SEMANA DO MEIO AMBIENTE ENCERRA COM PASSEATA EM XAPURI 

A Semana do Meio Ambiente de Xapuri teve inicio no dia 30 de maio e contou com uma vasta programação todos os dias nas escolas da rede Municipal, Estadual e Federal através do Ifac de Xapuri.
Uma vasta programação foi elaborada pela Secretaria Municipal de meio Ambiente e pelo Instituto Federal do Acre que trabalharam em parceria na realização da Semana, oferecendo desde cursos a palestras e plantio de mudas de árvores.
Para o Secretario Municipal Idalino Junior, a programação foi muito produtiva e a participação do IFAC engrandece a cada ano a Semana do Meio Ambiente, “foi muito produtiva nossa programação, tivemos uma participação muito grande de alunos e esperamos eles sejam multiplicadores das boas idéias e das práticas de preservação e conservação do meio ambiente”.
Para encerrar a Semana do Meio Ambiente foi realizada uma caminhada com os alunos das escolas
Anthero Soares Bezerra, Divina Providência e IFAC pelas ruas da cidade, onde os alunos carregavam
cartazes e faixas alusivas a preservação.





domingo, 1 de maio de 2016

Fim do verão e do inverno amazônicos desafia resiliência dos rios
* Ecio Rodrigues
Parece que as pessoas ainda não se deram conta dos efeitos decorrentes das mudanças no clima em seu cotidiano. Aqui na Amazônia é possível que o desaparecimento da histórica estacionalidade que sempre dividiu o ano em inverno e verão faça finalmente a ficha cair, como se diz.
Primeiro, é sempre bom reforçar que, na Amazônia, o desmatamento e sua ampliação anual a taxas persistentes e superiores a 5 mil km2 está na raiz de todos os males, em especial no que diz respeito ao aquecimento global.
Significa afirmar, sucintamente, que duas prioridades deveriam ser assumidas pelos gestores públicos como emergenciais: o reflorestamento das áreas já desmatadas e a redução a zero do desmatamento a partir de 2016.
Dito isto, cabe analisar, num despretensioso exercício de presciência, quais poderiam ser as consequências se as duas estações climáticas regionais – denominadas de inverno (alta pluviosidade) e verão (baixa precipitação) – viessem a se confundir, a ponto de a distinção entre ambas não ser mais perceptível.
A palavra-chave, aqui, é “adaptação”.
Como se sabe, existe estreito vínculo entre o comportamento das florestas e as estações do ano, principalmente em função das alterações na oferta de três insumos que as plantas e animais valorizam muito: água, temperatura e luz.
Para usar o exemplo da oferta de luz, diga-se que o fotoperíodo (como preferem os agrônomos) é bem maior durante o verão (que corresponde ao inverno amazônico). Durante esta estação as plantas ficam expostas à luz do sol por um tempo mais longo; por conseguinte, observa-se ampliação da fotossíntese e da produção de flores e frutos, o que, enfim, costuma ser bastante admirado pela fauna silvestre.
Se não mais houver distinção entre o inverno e o verão amazônicos, tanto os humanos quanto a fauna e a flora terão que se adaptar às novas condições climáticas.
Muitos haverão de considerar que a ocorrência de uma única estação climática, durante todo o ano, pode representar maior estabilidade na vazão dos rios e encerrar o ciclo dos traumas relacionados às alagações, como a que aconteceu em 2015.
Enganam-se. A estabilidade na pluviosidade não significa necessariamente o fim de eventos extremos. Ainda que a vazão dos rios se mantenha durante a maior parte do ano em níveis médios, alagações e secas vão continuar acontecendo – uma vez que as causas desses eventos estão vinculadas a fatores como desmatamento, quantidade de carbono jogada na atmosfera, aquecimento do planeta e alterações no clima. 
A palavra chave, nesse caso, é “resiliência”.
Entendendo-se resiliência como a capacidade de o rio retornar ao estágio original depois de sofrer algum tipo de impacto ou pela ocorrência de eventos extremos, pode-se dizer que maior ou menor resiliência representa recuperação rápida ou lenta, respectivamente, após uma alagação ou seca.
A resiliência está diretamente relacionada à vazão do rio e, sobretudo, à quantidade de biomassa florestal presente na mata ciliar. Assim, a taxa de desmatamento evidenciada em determinada bacia hidrográfica irá interferir diretamente na resiliência dos cursos d’água que integram essa bacia.
A adaptação ao fim do inverno e do verão demandará pesquisas sobre a resiliência dos rios e a interação entre água e floresta. Mas isso, hoje, não passa de utopia.


*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.

terça-feira, 26 de abril de 2016

Será o fim do inverno amazônico?
* Ecio Rodrigues
Pesquisadores que atuam com climatologia e meteorologia na Amazônia vêm alertando, com mais veemência nos últimos 10 anos, para um fenômeno climático que pode alterar – de forma radical, advirta-se – o cotidiano de quem vive na região: o fim da estacionalidade.
Por estacionalidade entenda-se a divisão do ano em períodos distintos, caracterizados por condições específicas de clima, que vão provocar reações igualmente específicas por parte das plantas e dos animais.
Não é segredo para ninguém que a primavera é a estação das flores; significa que, no ano corrente de 2016, no caso do Brasil, país situado abaixo da linha do equador, a maior parte das plantas deverá florir entre 22 de setembro e 21 de dezembro.
A primavera é a estação que começa após o inverno e cujo término dá início ao verão. O outono, por outro lado, marca o interstício entre o verão e o inverno.
Nas zonas temperadas, onde as estações climáticas são bem definidas, como acontece no Sul do Brasil, o cotidiano é moldado a partir dos impactos causados pelo calor, pelo frio, pela floração das árvores, pela queda das folhas – só para fazer referência a alguma característica marcante de cada estação.
Na Amazônia, todavia, isso não acontece. Como dizem os mais experientes, na Amazônia só há duas estações, a seca e a chuva.
No tempo da completa ausência de infraestrutura, quando a pavimentação de ruas era um luxo desfrutado apenas em metrópoles como Manaus e Belém, dizia-se que essas duas estações eram a da lama e a da poeira.
Mas, a presença de lama e de atoleiros representa apenas uma das faces da “estação das chuvas” – a outra se refere ao aumento da vazão dos rios, que, por sua vez, leva à fartura das cheias, além de importar em melhoria expressiva na beleza cênica da paisagem.
As chuvas também sempre foram associadas à ocorrência de temperaturas mais amenas – por isso, o período das chuvas corresponde ao chamado inverno amazônico.
Seguindo à risca as efemérides das estações do ano, diga-se que em 21 de março último teve início o outono, assinalando-se o fim do verão. Na Amazônia, contudo, esse período costumava marcar o fim do “inverno”, ou seja, a ocasião em que começavam a rarear as chuvas e iniciava-se o “verão”, a época da seca, cujo auge acontecia ente agosto e setembro.
Mas já não é bem assim. Para os cientistas que monitoram as curvas de pluviosidade e a temperatura (para ficar nas principais variáveis), o fim da estacionalidade pode ser uma realidade. Significa afirmar que a distribuição anual das chuvas pode deixar de apresentar as variações que justificavam tanto o inverno quanto o verão amazônicos.
A se confirmar essa hipótese, o que certamente requer a continuidade das pesquisas envolvendo clima, meteorologia e interação entre água e mata ciliar, a vida na região terá que se adequar a alterações que dizem respeito a temperatura, disponibilidade de água, quantidade e intensidade de luz. Tudo agravado por ambiente e clima rigorosos, que não se compadecem dos que moram por aqui.
Será o fim do inverno amazônico? Pode ser. Mas a adaptação às novas condições do clima não será fácil.


*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.