Condenar o Fundo
Amazônia é estupidez: governo sabotando o governo
* Ecio Rodrigues
Vai
ser muito difícil de explicar, no futuro, que o governo federal, por meio do
Ministério do Meio Ambiente, MMA, cometeu o desatino de tentar desacreditar o
Fundo Amazônia – o principal mecanismo público para captação de recursos
internacionais destinados ao controle do desmatamento na Amazônia.
Trata-se
de uma situação em que o governo sabota a si próprio; e, nesse caso em
particular, pelo menos duas constatações são inevitáveis. Primeiro, que o governo
se opõe à prioridade embutida nas doações internacionais recebidas pelo fundo: monitorar
e, com sorte, zerar o desmatamento na Amazônia.
Segundo,
que o governo desaprova a participação das organizações da sociedade civil no
investimento dos recursos financeiros – o que evidencia, além de estigmatização
e preconceito, também indiferença em relação aos preceitos democráticos contemporâneos.
Para
entender. Tudo começou quando os novos gestores do MMA, depois de 5 meses de
mandato, descobriram o que todo mundo estava careca de saber. Desde 2009, dos aproximados
1,5 bilhão de reais investidos pelo Fundo Amazônia, cerca de 800 milhões são aplicados
em projetos executados por organizações da sociedade civil.
Enquanto
os países que doaram o dinheiro (Noruega e Alemanha) enxergam a ampla participação
dessas entidades como indicador de sucesso do fundo, o MMA, numa clara demonstração
de amadorismo e despreparo técnico, não só não tem ideia do que isso significa
como resolveu questionar da maneira mais absurda, ou seja, levantando dúvida
sobre a lisura e a transparência do organismo.
Para
quem não sabe, o Fundo Amazônia é uma iniciativa pioneira e muito bem-sucedida,
instituída em 2007 para financiar experiências comprometidas com o que a Convenção-Quadro
das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas chamou de “Redução de Emissões por
Desmatamento e Degradação Florestal”, ou REED.
Depois
do encerramento do igualmente bem-sucedido Programa Piloto para Proteção das
Florestas Tropicais – custeado pelo G7 (o grupo dos sete países mais ricos do
mundo) e, por isso, chamado de PPG7 – o Brasil buscou, por meio do fundo, manter
o fluxo de captação das doações internacionais para a Amazônia.
O
Fundo Amazônia trouxe dois significativos avanços, sob o aspecto da eficiência
na aplicação do dinheiro doado: os recursos são gerenciados pelo BNDES, e não
pelo MMA; e os projetos priorizam a introdução de alternativas econômicas, e
não ações de fiscalização.
Insinuações
no sentido de que os relatórios dos projetos apresentam informações falsas, que
não há fiscalização sobre as experiências em execução, ou que o processo de
seleção das propostas é viciado depõem contra o BNDES, banco estatal responsável
pelo gerenciamento do fundo – em suma, depõem contra o próprio governo.
Especializado
na análise de investimentos e maior financiador do desenvolvimento regional brasileiro,
o BNDES está conseguindo inverter a lógica do combate ao desmatamento na Amazônia,
ao fomentar projetos produtivos voltados para a exploração da biodiversidade
florestal, a maior vantagem competitiva da região.
Reconhecida,
a gestão do fundo pelo BNDES foi elogiada pelos países doadores – que realizam
avaliações de desempenho periódicas, geralmente por ocasião da divulgação das
taxas anuais de desmatamento da Amazônia.
Por seu
turno, o TCU publicou em 2018 resultado de auditoria operacional onde atesta a
eficiência do BNDES no gerenciamento do fundo.
Ninguém
tem mais capacidade e legitimidade que o TCU e os próprios países doadores para
referendar o Fundo Amazônia – e refutar a sabotagem perpetrada pelo MMA.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.