terça-feira, 7 de março de 2017

A sustentabilidade da Amazônia não é opcional
* Ecio Rodrigues
Ainda que seja comum confundir-se o conceito de sustentabilidade com o de estabilidade no crescimento econômico, uma coisa é certa: desde a virada do século XXI que a Amazônia patina na economia, a despeito de ter se afastado da sustentabilidade.
Ou seja, o fato de se comprometer a sustentabilidade da região não tem ajudado a potencializar sua dinâmica econômica. É o pior dos mundos. Cabe esclarecer que, na Amazônia, a opção pela sustentabilidade implica ancorar a economia na exploração da diversidade biológica presente no ecossistema florestal.
Como costumam reiterar administradores e estudiosos que se debruçam sobre a política de desenvolvimento local, a instalação de atividades produtivas voltadas para extrair, industrializar e comercializar as matérias-primas abundantes na floresta promove, por assim dizer, a vocação produtiva regional.
Sem meias palavras, é o seguinte: a cada boi que nasce, a Amazônia se afasta da sustentabilidade; a cada quilo de carne de paca que se produz, a região se aproxima da sustentabilidade.
Essa lógica vale, por suposto, para o produto florestal que atualmente mais emprega e gera riqueza na região: a madeira.
Depois de passar por um ciclo econômico vigoroso na década de 1970, a exploração de madeira tropical amazônica hoje dispõe de tecnologia de manejo florestal apta a garantir uma oferta que, além de ser permanente, é reconhecida como sustentável pelos países compradores.
Abrir mão do potencial econômico representado pela madeira, como defende muitos desavisados, seria um tiro no pé, diante do valor desse produto e do seu significado para a geração de emprego na região. Nenhum produto de origem florestal tem mais capacidade para gerar riqueza que a madeira. Simples assim.
Continuando na mesma lógica – e, nessa altura, manifestando complacência em relação a quem desiste de ler o artigo por discordar do que aqui se escreve –, diga-se que, em face do universo de possibilidades econômicas descortinado pelas sementes e pela fauna silvestre, parece mesmo insano que não se explore esses dois segmentos do setor florestal.
Sementes de árvores e palmeiras amazônicas são nobres não apenas pela beleza, mas sobretudo por sua proficuidade, pela variedade de usos e produtos que podem engendrar. Entre esses usos, a produção de mudas, atividade que movimenta somas inestimáveis no mundo inteiro, talvez seja o mais elementar.
Além de serem utilizadas para fins alimentícios, as sementes se transformam em óleos, que por sua vez podem atender ao mercado de cosméticos ou ser queimados em motores empregados na geração de energia elétrica e no deslocamento das embarcações que transportam cargas e pessoas pela imensidão hidrográfica amazônica.
A fauna silvestre amazônica dispensa apresentação. Seja para a comercialização dos chamados bichos de estimação (papagaio e macacos são os mais cotados) ou para a produção de carne (queixada e paca são os preferidos), o manejo florestal de animais nativos já comprovou ser uma atividade bastante lucrativa.
Essa ladainha não é novidade e muita gente, antes deste artigo, já chamou a atenção para o mesmo prognóstico: a saída para a ocupação produtiva da Amazônia está no uso econômico de sua biodiversidade.
Mas essa saída, sem embargo de apresentar viabilidade econômica inquestionável, só veio a assumiu maior significado depois da Rio 92 e, mais recentemente, com a assinatura (em 2015) do Acordo de Paris. A saída pela biodiversidade se ajusta aos preceitos de sustentabilidade exigidos pelo planeta e pactuado pelas nações.
Por isso a sustentabilidade, para o caso de uma região como a Amazônia, não pode ser opcional. Não há espaço para sacrificar a sustentabilidade em troca de ganhos econômicos decorrentes da expansão do agronegócio. 
Trilhar o caminho da sustentabilidade é vocação inexorável da Amazônia, e não vai ser a criação de boi que vai comprometer esse destino.  

*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.


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