terça-feira, 22 de maio de 2018



O fim do motor a diesel
* Ecio Rodrigues
Os incrédulos que se cuidem, mas a revolução do carro elétrico, impulsionada pelo Acordo de Paris, em breve vai fazer sua primeira vítima: o motor a diesel.
Só para lembrar, o Acordo de Paris é considerado o maior pacto global direcionado à redução dos gases de efeito estufa lançados na atmosfera – gases que provocam o aquecimento do planeta, as alterações no clima e, no final da queda das peças do dominó, tragédias como alagações e secas.
Como os veículos que usam combustíveis à base de petróleo disputam com o desmatamento das florestas a posição de maiores responsáveis pela crise ecológica que aflige a humanidade, os carros elétricos ganharam status de salvadores do planeta. O que, por suposto, é um título justo.
Dos combustíveis obtidos do petróleo, o óleo diesel é um dos mais poluentes. Sua queima, além de expelir uma quantidade maior de carbono, também joga no ar dioxinas e metais pesados nocivos à saúde do homem.
Evidente que nada disso é novidade e que os países sabem dos malefícios do diesel há tempos. Faltava, contudo, o estopim que levaria à decisão pelo fim dos motores a diesel.
Ao que tudo indica, o estopim foi aceso em 2015, com a assinatura do Acordo de Paris pelos países associados às Nações Unidas. E, como todo rastilho de pólvora acionado por processos de revolução, não tem mais volta.
Em até 5 anos o motor a diesel deve desaparecer do mercado europeu. Indícios nesse sentido surgem a todo instante. Como a decisão da justiça alemã, divulgada em 27 de fevereiro último, que autorizou a imposição de obstáculos normativos para reduzir a frota de motor diesel naquele país.
Essa medida não só interfere no planejamento da produção industrial de novos modelos a diesel, como também afeta um total aproximado de 12 milhões de veículos que atualmente circulam no território alemão. Vale notar que esse tipo de intervenção na economia, diferentemente do que ocorre por estas plagas, é incomum na democracia europeia.
De outra banda, a Toyota anunciou, em março, que pretende zerar a venda de carros a diesel – sendo que, na Europa, isso acontecerá ainda em 2018. Significa que, de um jeito ou de outro, a empresa vai liquidar o estoque que mantém desses veículos.
Significa mais. Que a Toyota vai parar de produzir motores a diesel e de pesquisar inovações no propósito de tornar esse combustível menos poluente e com maior rendimento por km rodado, o que fazia desde sua fundação.
Não é preciso se reportar à soma de dinheiro investido por essa indústria nos motores a diesel – que, por sinal, alcançam hoje quase 20% do total de suas vendas (para falar apenas do continente europeu).
Países como França e Inglaterra vão proibir o motor a diesel. A sueca Volvo, a partir de 2019, usará motores elétricos na produção de todos os seus modelos – quer dizer, simplesmente não vai mais fabricar veículos a combustão.
Óbvia a pergunta: que veículo vai ocupar a fatia de mercado do motor a diesel?
Óbvia a resposta: o carro elétrico.
A expectativa é que o preço do motor elétrico se iguale ao do convencional até 2025. Sem o diferencial de preço, o carro elétrico reduzirá sua dependência da regulamentação estatal, e aí será o salto definitivo para o futuro.
A revolução do carro elétrico já começou por lá, quando vai começar por aqui?
 
*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.


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