segunda-feira, 6 de agosto de 2018



Do Acre a Puno
* Ecio Rodrigues
Na fronteira entre Assis Brasil e Iñapari, porta de entrada para os brasileiros que se arriscam a ir de carro do Acre ao Peru, deveria ter uma placa informando: “Este país está em obras, sem data para terminar”.
Tudo indica que o aquecimento da economia, além de valorizar a moeda peruana, diminuindo o nosso poder de compra (câmbio médio atual por lá: 1 real = 0,90 sol), também promoveu o investimento em obras públicas, sobretudo abertura e pavimentação de rodovias.
Os transtornos são evidentes, principalmente no trânsito urbano – que, diga-se de passagem, é caótico mesmo quando não tem obra. Na pequena e intensa Puerto Maldonado, por exemplo, onde os brasileiros costumam pernoitar antes de prosseguir para Cuzco ou Puno, percebem-se muitas vias inacabadas, inclusive a principal delas, que corta toda a cidade.
Mas nada se compara a Juliaca.
Saindo de Puerto Maldonado, e depois de atravessar montanhas nevadas que proporcionam uma paisagem natural de tirar o fôlego, chega-se a Juliaca. O que não é agradável, diga-se.
A impressão que se tem é que a cidade está em escombros: construções inacabadas, com vergalhões expostos (parece até que foram bombardeadas), ruas sem nenhuma pavimentação, com muitos buracos e lama (ou poeira, dependendo da época do ano), e muito lixo, muita gente, muitos carros e motos, numa desordem assombrosa até para os latinos.
Aliás, prédios com vergalhões expostos e trânsito desorganizado são características presentes em todo o país. Ao que parece, os peruanos não terminam suas construções – e na esperança, talvez, de ampliá-las com novas lages e pavimentos, deixam os ferros levantados e à vista.
Ao que parece, também, todo peruano possui licença para transportar pessoas e cargas. Como a oferta de transporte é bem superior à demanda e como não há regras, a conquista do cliente se dá na marra, ou melhor, na buzina.
Provavelmente, em algum momento alguém teve a infeliz ideia de importar da Ásia o tal “tuk-tuk”, uma espécie de riquixá motorizado, com cabine para conduzir até 3 pessoas, mas que os peruanos conseguem transformar em qualque coisa, até em trator.
Alerte-se que não há opções razoáveis para hospedagem ou alimentação entre Puerto Maldonado e Puno. Portanto, o viajante tem que se aprovisionar para enfrentar 10 horas de viagem pelos Andes. Significa que deve se preparar, com remédios, chá de coca e até mesmo oxigênio, para o mal-estar causado pela altitude, que pode chegar a 5.000 metros. Mas nada que não seja contornável. E a estrada é um tapete.
Tal como Cusco e Arequipa, Puno é marcada pela ocupação desordenada. Mas o centro histórico e a Plaza de Armas valem a visita. Como atração principal, o Lago Titicaca, que fica na fronteira entre o Peru e a Bolívia (Copacabana), certamente paga a viagem.
Situando-se a 3.812 metros acima do mar, o Titicaca detém o título de lago navegável mais alto do mundo. Com seus 8.300 km2 de espelho d’água, tornou-se referência para a produção agrícola e a distribuição demográfica das cidades durante o Império Inca. Por sinal, reza a lenda que foi no Titicaca que surgiu essa civilização pré-colombiana.
Enfim, visitar os monumentos incas erguidos nas ilhas do Sol e da Lua fazem esquecer qualquer adversidade. No final das contas, é uma grande aventura, inesquecível!


*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.




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