Países são ricos ou
pobres, de acordo com suas próprias decisões
* Ecio Rodrigues
Desde
a publicação, em 1776, da célebre obra do economista Adam Smith, “A riqueza das nações”, ou “Uma investigação sobre a natureza e as causas
da riqueza das nações”, do título original em inglês, que muitos estudiosos se debruçam sobre a
complexa tarefa de explicar a existência de países ricos e pobres.
Considerado um dos principais,
senão o principal, pensador do liberalismo econômico, Adam Smith, em sua vasta
e profícua produção intelectual, ficou conhecido por conferir, ao livre
comércio entre as nações e à especialização produtiva de cada país, a condição
de requisitos-chave para o sucesso.
Os autores costumam recorrer ao
filósofo escocês quando se referem à existência de uma “mão invisível” capaz de
equalizar os preços das transações comerciais de bens e serviços entre as
nações.
Por sua vez, os críticos
ferrenhos da mão invisível saem em defesa das regulamentações estatais, sob a
justificativa de que o interesse do mercado por lucros rápidos e elevados
compromete a distribuição de riqueza – tornando os ricos cada vez mais abastados,
e os pobres, mais miseráveis.
É nesse contexto que o norueguês
Erik S. Reinert, em seu livro “Como os países ricos ficaram ricos... E por que
os países pobres continuam pobres”, questiona e tenta – sem sucesso, evidentemente
– demonstrar o fracasso do livre-mercado, enquanto receituário para o
desenvolvimento de um país pobre.
Traduzido por Caetano Penna e republicado
em 2016 sob os auspícios do Centro Internacional Celso Furtado de Políticas
para o Desenvolvimento, o livro de Reinert defende que os países pobres não
conseguem superar o estágio de baixo IDH sem que ocorra um intenso processo de
industrialização.
Ainda que sob explicação
precária, esteia sua tese na lei econômica dos rendimentos marginais
decrescentes. Segundo essa lei, o rendimento obtido por meio de investimento em
algum fator de produção (a incorporação de terras ao agronegócio, p.ex.)
decresce, depois de alcançado um teto de produção.
Ocorre que, apesar de a
produção em valores absolutos aumentar, a produtividade – isto é, a quantidade
produzida em função de determinado fator de produção (terra, capital ou
trabalho) – se reduz, sob taxas relativas crescentes.
Todavia, segundo sustenta Reinert,
por meio da industrialização intensiva (não de qualquer produto, mas daqueles
que propiciam agregação de valor), os rendimentos serão crescentes, o que pode
melhorar o IDH dos países pobres.
Indo além, o autor remete a uma
conspiração internacional arquitetada pelos países ricos, no propósito de que
os pobres continuem sendo ou até piorem sua condição de pobreza.
Essa urdidura internacional,
por óbvio capitaneada pelos Estados Unidos, por meio do Consenso de Washington,
concretizar-se-ia mediante a remoção de barreiras comerciais para a venda dos
produtos industrializados, dos países ricos aos países pobres.
O complô internacional para
manter os países pobres mais pobres, segundo a crença estranha do autor, chegaria
à política educacional. Nesse ponto, por sinal, Reinert beira o absurdo, ao
afirmar:
Ao enfatizar a importância da educação sem considerar, simultaneamente,
uma política industrial que crie demanda por pessoas instruídas – como fez a
Europa ao longo dos últimos quinhentos anos -, as instituições de Washington
aumentam os encargos financeiros dos países pobres, induzindo-os a financiar a
educação de pessoas que só encontrarão emprego nos países ricos [...] Mesmo que
o dinheiro que esses emigrantes enviam para seus parentes seja importante – em
países como El Salvador, o fluxo de recursos dos emigrantes constitui a maior fonte
de divisas estrangeiras –, ele é geralmente usado no consumo, não em
investimentos.
A
despeito da citação de uma vasta bibliografia, que inclui autores de língua portuguesa,
chama a atenção a ausência da valiosa contribuição de Celso Furtado, o que
poderia trazer um viés mais inteligente a esse tipo de análise.
No
fundo, parece que Reinert prefere apelar para a conspiração mundial engendrada
pelos americanos, a ter de culpar os países pobres por suas decisões.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de
Brasília.
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