segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

77% dos brasileiros querem mais unidades de conservação na Amazônia

 * Ecio Rodrigues

Pesquisa encomendada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), realizada em âmbito nacional, indica um alto grau de preocupação dos brasileiros em relação à agenda ambiental nacional, em especial no caso da Amazônia.

Levado a cabo pelo Instituto FSB de Pesquisa, o levantamento contratado pela CNI foi apresentado durante o Fórum Amazônia+21, evento virtual promovido pela Federação das Indústrias de Rondônia, conjuntamente com a Prefeitura de Porto Velho, entre 4 e 6 de novembro de 2020.

Como asseverou a CNI, a pesquisa é reveladora quanto à percepção dos brasileiros em torno do desenvolvimento econômico da Amazônia.

De pronto, é possível constatar que os resultados rechaçam a ideia da intocabilidade da Amazônia – como defendem os ambientalistas mais ortodoxos, ditos preservacionistas, que acreditam na utopia de uma floresta amazônica supostamente despovoada e, por isso, protegida da ação humana.

Com efeito, e segundo a pesquisa, para 95% dos brasileiros, o que beira à unanimidade, é possível realizar a exploração sustentável dos ativos econômicos, de modo a gerar emprego e renda permanentes na Amazônia e, ao mesmo tempo, garantir a conservação da floresta.

Muito embora a premissa pareça um tanto óbvia, o antagonismo entre preservacionismo X conservacionismo contamina os órgãos que integram o Sisnama (Sistema Nacional do Meio Ambiente), comprometendo, por vezes, o licenciamento ambiental, apenas para ficar num dos temas mais polêmicos.

De outra banda, mais de 80% dos brasileiros defendem a exploração da biodiversidade florestal da Amazônia, na condição de rumo e modelo para a economia regional.

A Amazônia é motivo de orgulho nacional para 78% da população, enquanto 60% dos brasileiros se assustam com a destruição do ecossistema florestal e consideram as queimadas uma das maiores ameaças à sustentabilidade ambiental.

Corroborando a exploração econômica sustentável da biodiversidade florestal amazônica, um contingente igual aos que se orgulham da região – ou seja, 77% – defende que o país amplie a quantidade de terras destinadas às unidades de conservação.

E, finalmente, um percentual mais expressivo ainda, correspondente a 83% da população, afirma que a manutenção da floresta amazônica é peça-chave para o desenvolvimento econômico e melhoria da condição de vida no país.

Em síntese, de uma rápida leitura dos resultados, a pesquisa da CNI demonstra categoricamente que: (a) a grande maioria da população se preocupa com a agenda ambiental nacional, sendo que a floresta amazônica está no centro dessa preocupação; (b) existe amplo apoio popular à ampliação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação; e (c) os brasileiros são favoráveis à exploração da biodiversidade florestal da Amazônia, na condição de referência para a economia da região.

Sem embargo, a transformação produtiva claramente demandada pela sociedade e captada pela pesquisa da CNI está longe de se converter em decisão de política pública na Amazônia.

Há uma pedra no meio do caminho da transformação produtiva em direção ao uso comercial da biodiversidade florestal – ou à dita bioeconomia, como querem os planejadores do governo federal: a pecuária extensiva.

Para enfrentar os pecuaristas, grandes e pequenos, e suprimir o crédito público subsidiado a que têm acesso junto ao Basa/FNO, é necessária uma força política hoje inexistente nos 9 estados amazônicos.

A criação de boi em pastagens com baixíssima produtividade predomina em mais de 80% da floresta desmatada, e justamente em localidades em que a economia é mais frágil, como no preocupante exemplo do Acre.

A louvável iniciativa da CNI demonstrou, de maneira contundente, o que a sociedade brasileira quer para o futuro da Amazônia.

Falta transformar essa determinação em imperativo de política pública. Mas, chegar a isso é um desafio que tem se mostrado insuperável.

 

*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.

 

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