terça-feira, 14 de novembro de 2017


Acre bate novo recorde de queimadas, superando 2016
* Ecio Rodrigues
Os ambientalistas que não gostam do governo atual porque eram amigos do anterior andam dizendo que o Brasil vai ser duramente questionado na COP 23, conferência da ONU sobre mudanças climáticas realizada na Alemanha, em função da pequena redução observada no desmatamento da Amazônia em 2017.
Veja bem, a insatisfação dos ativistas ambientais não decorre de majoração nos índices de desmatamento – como aconteceu em 2016, por exemplo –, mas do fato de que consideram muito pequeno o decréscimo (em torno de 19%) evidenciado na taxa medida em 2017 e anunciada no início deste mês.
 Ao que parece, as cobranças feitas aos gestores ambientais são bem maiores agora do que eram antes.  
Mas, por falar em cobrança, o que têm a dizer os ambientalistas a respeito dos dois recordes consecutivos de queimadas estabelecidos no Acre em 2016 e 2017?
Para entender. Excetuando-se 2005 (por conta do trágico incêndio que destruiu mais de 200.000 hectares de florestas), desde 1988, quando se iniciaram as medições, não se queimava tanto no território estadual como nos últimos dois anos.
Importante destacar que o recorde de 2017 foi registrado no início de novembro, ou seja, faltando ainda quase 60 dias para o término do ano.
          Aos que preferem conferir os números: em todo o ano de 2016 aconteceram 6.987 queimadas no Acre (esse total já foi recorde); até 06 de novembro de 2017, a quantidade de queimadas alcançou a inacreditável cifra de 7.031 focos, como demonstra o Programa de Monitoramento de Queimadas do conceituado Inpe.
Por outro lado, em outubro de 2017 foram detectadas 1.508 pontos de queimadas, o que representa recorde absoluto para esse mês desde 1988 – nesse caso, mesmo incluindo os incêndios florestais de 2005.
O inédito pico em outubro aponta uma nova dinâmica no contexto da produção agrícola do Acre. Desnecessário mencionar os riscos trazidos pela introdução de um ciclo diferenciado para a nefasta prática da queimada.
Alguns podem alegar, ingênua e defensivamente, que, na Amazônia, os fenômenos climáticos (cujas causas, aliás, incluem o desmatamento e as queimadas) tornaram o verão mais longo e o inverno mais curto – ou o contrário, não importa.
O fato a ser considerado é que o produtor adota a queimada como opção de investimento; em primeiro lugar, porque é permitido pela legislação (mesmo que pareça absurdo); e, em segundo, porque essa prática goza da tolerância dos gestores públicos, sempre preocupados com a próxima eleição.
Não havendo argumento contrário à constatação fartamente comprovada de que a motivação do produtor para queimar tem origem na política do governo direcionada para a ampliação da agropecuária (bem mais pecuária que agro), e no sentido de favorecer a pequena propriedade rural no Acre, restaria arguir sobre as razões para se queimar tanto em outubro.
Perguntas inconvenientes não devem ser feitas em época de eleição. Com a antecipação do calendário eleitoral e uma ruma de pré-candidatos fazendo campanha à luz do dia, melhor se fazer de morto, como dizem os produtores.
Sem resolver os entraves do desmatamento e da queimada, o Acre vai permanecer sem rumo. Como era nas décadas de 1990 e de 2000, e como continuará em 2020.

*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.


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