* Ecio Rodrigues
Para amoldar a produção rural da Amazônia aos ideais de
sustentabilidade preconizados pela ONU e pelo mundo, é necessário alterar a
percepção social acerca do que se pode chamar de “valor da biodiversidade florestal”.
Significa dizer que a concretização do potencial que a
biodiversidade florestal da Amazônia apresenta para a geração de riqueza exige adequação
de investimentos, sejam públicos ou privados, à sua realidade ecossistêmica.
Dessa forma, a prioridade máxima de todos os envolvidos com os
destinos da região deveria ser ampliar, no curto prazo e de forma significativa,
o valor dos bens e serviços que a biodiversidade florestal pode oferecer de maneira
permanente.
Um primeiro passo importante é deixar de lado a visão romântica da
floresta como selvagem e intocável, que predomina desde a década de 1980 ou mesmo
antes, e assumir a visão da biodiversidade florestal como fonte de riqueza – não
num futuro distante, mas agora.
Explicando melhor. Hoje, um hectare de floresta vale menos que um
hectare desmatado para instalação de pasto (hectare este, esclareça-se, suficiente
para alimentar apenas uma cabeça de gado). Contudo, mediante a exploração da
biodiversidade florestal é possível gerar uma renda pelo menos 3 vezes maior.
De sorte que a produção primária da Amazônia precisa superar o
nefasto ciclo imposto pela criação extensiva de boi – atividade que, para ampliar
sua produção, depende do desmatamento anual de novas áreas cobertas por florestas.
Ora, a única alternativa é a exploração da biodiversidade
florestal para a oferta de produtos que são monopólio regional e, portanto, não
enfrentam competição direta de São Paulo e de outras regiões mais desenvolvidas.
A boa notícia é que a transformação da biodiversidade florestal em
negócios rentáveis é realizada por meio da tecnologia de manejo florestal, já
desenvolvida por pesquisadores de instituições que atuam na Amazônia, como a
Embrapa.
Inclusive, no caso da extração de madeira, a aplicação dessa
tecnologia possibilita a obtenção de ganhos competitivos mesmo quando as
florestas apresentam baixa produtividade (medida em metro cúbico por hectare),
como acontece na realidade do Acre.
Mas viabilizar a exploração comercial da biodiversidade florestal
não é tarefa fácil. Além de exigirem planejamento e cronologia rígida de coleta/extração,
os produtos florestais se circunscrevem a um mercado deveras pulverizado, no Brasil
e no mundo.
Tome-se o exemplo da copaíba. As árvores possuem boa dispersão nas
florestas de ocorrência e as técnicas de manejo (para extração e beneficiamento)
são de fácil domínio.
Porém, se numa determinada safra 1.000 famílias residentes, digamos,
na reserva extrativista Chico Mendes, no Acre, produzirem cada uma 01 litro de óleo
de copaíba, é provável que levem mais de 3 anos para vender todo o estoque.
Com planejamento e organização da produção, todavia, é possível
alcançar uma oferta estável, ou seja, o produto passa a ser ofertado de forma regular,
levando confiança ao mercado – o que oportunizará a celebração de contratos de comercialização
de longo prazo e, por conseguinte, a obtenção de renda duradoura pelos extrativistas.
A biodiversidade florestal da Amazônia só alcançará valor atrativo
para o mercado quando houver suporte de investimentos. Mas para que isso aconteça
é preciso uma vontade política ainda inexistente na região.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
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