* Ecio Rodrigues
Assinado em 2015 por mais de 190
países associados às Nações Unidas, o Acordo de Paris é considerado o mais
abrangente e representativo pacto político destinado a minimizar os efeitos do aquecimento
do planeta.
Ao
aderir aos termos desse acordo, os países signatários, inclusive o Brasil, se comprometeram
a cumprir metas de redução dos gases causadores do efeito estufa – leia-se:
fumaça – que todos os anos lançam na atmosfera.
Essas
metas são revistas e atualizadas anualmente. Porém, para chegar a elas, costumam
ser travadas longas e difíceis negociações, a fim de superar um impasse
recorrente, que persiste desde a Rio 1992 e que diz respeito à responsabilidade
individual com a causa do aquecimento do planeta.
Acontece
que a temperatura atual do planeta é consequência da fumaça produzida há muito
tempo, uma vez que o dióxido de carbono, por exemplo, o principal agente do efeito
estufa, pode permanecer na atmosfera por mais de 100 anos.
Significa
dizer que os países desenvolvidos, que levaram a efeito um acentuado processo
de industrialização entre o final do século XVIII e o início do XIX, são
atualmente os maiores responsáveis pelo aquecimento global.
Para
essas nações, admitir essa responsabilidade significa assumir um nível superior
de compromissos com a redução, hoje, dos gases expelidos na atmosfera, além de
uma parcela maior do dinheiro destinado ao investimento em ações reparatórias
do processo de aquecimento.
Por
outro lado, os países em desenvolvimento, tais como Brasil, China, Índia e
Rússia, embora reconhecendo que contribuem para a ocorrência de temperaturas
perigosas num futuro próximo, se recusam a adotar metas rigorosas de redução
dos gases, sob a alegação de que, se o fizerem, comprometerão sua industrialização.
A
aferição desse ônus – comum a todas as nações e ao mesmo tempo específico para cada
uma – é o que emperra as negociações. Responsabilidades diferenciadas representam
metas diferenciadas e investimentos igualmente diferenciados nas ações de
mitigação dos efeitos do aquecimento do planeta.
Se
nos países desenvolvidos a origem dos gases está na indústria, no Brasil vem do
desmatamento na Amazônia a maior parcela do carbono expelido aos céus todos os
anos.
Diante
da dificuldade para se chegar ao estabelecimento das metas ajustadas no Acordo
de Paris, bem antes, em 1997, foi celebrado o chamado Protocolo de Kyoto, assinado
na cidade japonesa que lhe empresta o nome.
O
Protocolo instituiu um sistema de pagamento por serviços ambientais, pelo qual
indústrias localizadas em países desenvolvidos e que se encontram no limite da
quota liberada de carbono, podem aumentar a quota – e, por conseguinte, sua
produção – comprando créditos de emissão de carbono procedentes de países que possuem
mecanismos de redução de emissões ou de sequestro de carbono, como áreas de
florestas, nesse último caso.
Até
2019 foi comercializado U$ 1,95 bilhão de dólares em créditos de carbono nas
bolsas de valores do mundo, em negociações entre entes privados. De um lado, as
empresas emissoras e, de outro, os coletores de carbono. O pico de negociações
ocorreu entre 2010 e 2013.
Esse
montante foi originado em 9.807 projetos, distribuídos entre os países
associados à ONU, sendo que mais de 70% deles se destinam à produção de energia
elétrica baseada em fontes alternativas; dessas fontes, por sua vez, 50% correspondem
à força das águas, ou seja, a usinas hidrelétricas.
Um
novo ciclo de crescimento nas negociações de crédito de carbono teve início a
partir da assinatura do Acordo de Paris, em 2015, todavia, foi freado com a
retração econômica mundial ocasionada pela pandemia de covid-19.
A
boa notícia é que, no Brasil, a despeito da inércia do governo na área ambiental
nos últimos 2 anos, o mercado de carbono mostra sinais visíveis de expansão em
2021. Mas, nunca é demais lembrar, por aqui, o propósito único dos projetos de
crédito de carbono é zerar o desmatamento na Amazônia.
*
Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal,
Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela
Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável
pela Universidade de Brasília (UnB).
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