* Ecio Rodrigues
No
Brasil, os mandatários eleitos para o Executivo (em esfera municipal, estadual
e federal) costumam supor, inadvertidamente, ao montar seus governos, que a
gestão da pasta ambiental não exige formação especializada.
É
provável que o equívoco tenha origem em reivindicações do próprio movimento
ambientalista, que ainda hoje considera que o cargo de analista ambiental pode
ser exercido por qualquer profissional de nível superior.
Não à toa,
concursos realizados por Ibama e ICMBio (para ficar apenas na alçada federal) não
exigem graduação em cursos correlatos à área do meio ambiente, tais como engenharia
florestal e biologia.
Por
consequência, e mesmo passando por um período preparatório dispendioso, os aprovados,
de maneira geral, não têm a qualificação necessária para atuar no diagnóstico
dos impactos ambientais e na elaboração de pareceres técnicos complexos.
Nada mais
paradoxal que a deficiência técnica que se constata na atuação dos órgãos
ambientais na Amazônia.
É fato
que a engenharia florestal habilita o profissional para o manejo da
biodiversidade florestal. Também é fato que, na Amazônia, mais da metade das
atribuições dos órgãos ambientais está relacionada ao tema das florestas.
Contudo, pode-se
dizer – sem querer ser preciso – que de cada 10 técnicos de nível superior, no
máximo 2 são engenheiros florestais, sendo que os 8 restantes não são qualificados
para atender à demanda do órgão, já que o concurso que prestaram não exigiu essa
capacitação.
No caso dos
analistas do ICMBio, instituto responsável pela gestão de reservas extrativistas
e parques nacionais, é imprescindível que possuam noções mínimas de política
ambiental e, por conseguinte, logrem discernir as linhas conceituais que permeiam
o assunto, a saber, conservacionismo e preservacionismo.
Afinal, as
duas vertentes estão no centro dos preceitos discutidos e estabelecidos no
âmbito do Acordo de Paris, o mais amplo e mais sólido pacto ambiental já
celebrado pelos países associados à ONU.
A título
de esclarecimento, destaque-se que os adeptos do preservacionismo defendem a
criação de unidades de conservação de proteção integral, onde não é permitida a
presença humana, na condição de principal mecanismo para a obtenção da
sustentabilidade no crescimento econômico da Amazônia.
Na visão
preservacionista, a segregação de áreas de proteção integral contrabalançaria os
impactos observados no restante do território – decorrentes da substituição da
biodiversidade florestal por áreas de cultivo/pastagem – e asseguraria um
suposto equilíbrio ecológico.
Para os
adeptos do conservacionismo, por outro lado, a sustentabilidade só será
alcançada mediante o manejo e a inserção da biodiversidade no sistema econômico
– não sendo aceitável, portanto, a conversão do ecossistema florestal em pasto.
Dessa
forma, como proposta adequada para a conquista da sustentabilidade, defendem a
criação de unidades de conservação de uso sustentável, como reservas extrativistas.
Guardando
afinidade com um ou outro pensamento, obras clássicas estudadas por técnicos e
pesquisadores discutem o desenvolvimento sustentável abordando a relação entre crescimento
demográfico/oferta de alimentos/biodiversidade florestal.
Complementa
a formação na área ambiental conhecimento básico em torno da questão das
desigualdades regionais, sobretudo as alusivas aos níveis de consumo dos países
do Norte e do Sul, e que respaldaram os termos convencionados no Acordo de
Paris.
Por fim, os
analistas do ICMBio devem forçosamente saber distinguir os instrumentos de
gestão ambiental, tanto os inseridos no princípio do poluidor/pagador quanto os
inerentes ao princípio do comando/controle – tendo em vista que esses
instrumentos são referência para a execução da Política Nacional de Meio
Ambiente.
Muitos
preferem politizar o recorrente fracasso em zerar o desmatamento na Amazônia,
mas uma coisa é certa: não é empreitada para amadores.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, mestre em
Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e doutor em
Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
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