* Ecio Rodrigues
Depois
da divulgação, pelo Inpe, dos elevados índices de desmatamento na Amazônia em 2021,
o movimento ambientalista se apressou em cobrar do governo federal (que nunca
assumiu a área ambiental como prioritária) o de sempre: mais fiscalização.
Um grande
erro, pois – como os representantes brasileiros, orgulhosamente, fizeram questão
de exibir na COP 26, reunião da ONU sobre mudanças climáticas que se realizou
em novembro na Escócia – houve, sim, investimento em monitoramento e controle,
ou seja, em fiscalização.
O
governo demonstrou esse investimento comprovando o repasse de recursos aos
estados, a abertura de concurso para Ibama e ICMBio, a aquisição de viaturas e
helicópteros utilizados em operações do Exército e da Polícia Federal, e assim
por diante.
No
fim das contas, o governo ficou bem na foto e fez parecer que o problema não
tem solução. O que está muito longe da verdade.
Cabe
esclarecer, para quem não acompanha o noticiário capenga sobre a Amazônia, que,
de acordo com o apurado pelo Inpe, no período entre 1/8/2020 e 31/7/2021, foram
destruídos 13.235 km2 de florestas, o que representa um aumento de
cerca de 22% no desmatamento em relação ao período anterior.
O
erro dos ambientalistas em deitar ênfase na fiscalização – o que levanta a bola
para os governos, que, sem exceção, de fato sempre investiram nos fiscais – tem
um equívoco de origem. Trata-se da crença, pouco científica, diga-se, de que a
maior parte do desmatamento na Amazônia não é licenciada e, portanto, ilegal.
Ao
cair nessa armadilha – desnecessária, por sinal, eis que os países que
assinaram o Acordo de Paris em 2015 exigem o desmatamento zero e não querem saber
que parcela é permitida pelo Código Florestal –, os ambientalistas politizam o
debate. Isso é justamente o que esperam os gestores ambientais, tanto em esfera
federal quanto estadual.
Não
é a primeira vez e nem será a última que o movimento ambientalista erra, ao politizar
a discussão e não prestar atenção no que diz a ciência. Acontece que, em função
de sua complexidade, as questões ambientais requerem cuidado com relação à procedência
das informações.
Não
à toa, alguns temas que motivaram ativistas a empunhar bandeiras e fazer manifestações
em décadas passadas não passam de notáveis enganos.
Um
desses equívocos foi, certamente, a guerra declarada ao Pro-Álcool, programa de
incentivo à produção de combustível com base no álcool extraído da
cana-de-açúcar, e que tinha o objetivo, em última instância, de reduzir as
importações de petróleo.
Esse
programa foi combatido com muita veemência durante a década de 1970, sob o
argumento de que a produção do combustível provocava a contaminação dos cursos
d’água por azoto, um subproduto do álcool. Hoje em dia é difícil encontrar uma
entidade ambientalista que inclua o azoto em sua pauta.
Diante
da crise causada pelo efeito estufa – que resultou na celebração da Convenção
do Clima, do Protocolo de Quioto e do Acordo de Paris –, a geração de energia
por meio de fontes renováveis, como é o caso da cana-de-açúcar, passou a ser prioridade
em todo o mundo.
Vale
dizer, ante os males causados pelo petróleo, a produção de álcool, sem dúvida,
é uma alternativa energética ambientalmente adequada.
Outra
causa errada – e perdida – diz respeito à produção de madeira nativa na
Amazônia. Sempre considerada sob o prisma da destruição (já que a aplicação da
tecnologia de manejo florestal seria supostamente impossível), a indústria de
serraria foi demonizada e combatida com empenho pelo ambientalismo.
Atualmente,
de acordo com os termos estipulados para regulamentação do mercado de carbono, a
ONU preconiza o manejo florestal, a fim de ampliar a capacidade das florestas
de atuar como sumidouros de carbono.
Como
ensina a ciência florestal, a aplicação da tecnologia de manejo para a produção
de madeira dinamiza o fluxo de energia no interior da floresta e, por
conseguinte, favorece a fixação de maior quantidade de carbono.
Ao desprezar
o desmatamento zero, os ambientalistas entram na arena do governo – muita altercação
sobre legalidade e nenhuma ciência.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal (UFRuRJ), mestre
em Política Florestal (UFPR) e doutor em Desenvolvimento Sustentável (UnB).
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