* Ecio Rodrigues
Entre 2004
e 2012, com exceção de pequenas oscilações (para cima), a taxa anual de
desmatamento sofreu a mais longa sequência de quedas até hoje registrada,
chegando ao menor índice já aferido.
Por
razões pouco estudadas e por isso ainda inexplicáveis, o ano de 2012 foi o
único até agora (desde 1988, quando tiveram início as medições) em que a
extensão da destruição florestal na Amazônia foi inferior a 5.000 km2.
A partir daí
uma tendência de alta é claramente perceptível na curva do desmatamento, tendo
se acentuado depois de 2018.
Essa constatação
é preocupante, já que elevações persistentes podem resultar em picos – como o recorde
de 1995, quando a destruição assumiu uma proporção alarmante, atingindo 29.059
km2 de área com cobertura florestal, transformada quase que
inteiramente em pastagem para criação extensiva de boi.
Ou o recorde
de 2004, ano em que o aumento do desmatamento acompanhou o aquecimento da
economia brasileira e, em consequência, 27.772 km2 de florestas foram
suprimidos por corte raso, desaparecendo do mapa amazônico.
Todos os
anos o mundo acompanha a divulgação, pelo Inpe, da taxa de desmatamento, o que ocorre
sempre no final de novembro.
Como o combate
à devastação florestal é efetuado primordialmente pelo governo federal, é dele
o mérito quando a taxa é reduzida, assim como a responsabilidade, nos anos em
que se amplia.
Diversamente
do que apregoam a imprensa e o movimento ambientalista, todos os anos os
governos (o atual e os anteriores) aplicaram recursos na fiscalização.
E se
engana quem pensa que se trata de um investimento exíguo, pois não é. Está
muito longe da verdade, por sinal.
Acontece
que a maior parte do orçamento na área ambiental é destinada a procedimentos
relacionados ao exercício do poder de polícia, tais como compra de equipamentos
e viaturas, realização de operações fiscalizatórias, pagamento de diárias etc.
Mas a experiência
demonstra que para alcançar êxito, além da destinação orçamentária é preciso
também competência – algo que esteve em falta nos últimos 4 anos.
Do ponto
de vista institucional, cabe observar que nesse governo as ações de controle do
desmatamento ficaram diretamente vinculadas à Presidência, sob a coordenação –
um tanto ineficiente, diga-se – do próprio vice-presidente da República.
Nada
disso adiantou. A despeito do investimento em fiscalização e dos dispêndios com
a intensa atuação do Exército, a gestão que se encerra em 2022 falhou rotundamente
no cumprimento da meta estabelecida perante o Acordo de Paris, de conservar a
floresta na Amazônia.
Em 2019, primeiro
ano do mandato, foram derrubados 10.129 km2 de florestas; em 2020, foram
10.851 km2 e, em 2021, 13.038 km2.
Agora, em
2022, a superfície desmatada totalizou 11.568 km2. Apesar da leve
flutuação para baixo, a tendência de alta se manteve – o que só confirma o
fracasso do governo em conter o desmatamento e estancar os prejuízos econômicos
decorrentes da degradação da biodiversidade florestal.
Fracasso
que deveria ser cobrado com firmeza pela imprensa. Afinal, não tem nada a ver
com ideologia, é incompetência mesmo.
*Engenheiro florestal (UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR) e doutor em Desenvolvimento Sustentável
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