* Ecio Rodrigues
Os mais
de 190 países reunidos em Sharm El Sheikh, no Egito, durante a COP 27, que
terminou na última sexta-feira (18/11), deram passos importantes para a
superação de um antigo obstáculo, relacionado à oferta de recursos financeiros.
Não
importando a finalidade desses recursos – mitigação de desastres como secas e inundações
ou redução do petróleo na geração energética –, em vista dos altos custos envolvidos,
as negociações sempre emperraram diante da pergunta: quem vai pagar a conta?
O debate contrapôs
as nações desenvolvidas, que lançam carbono na atmosfera desde a revolução
industrial (final do século XVIII), sendo hoje as maiores responsáveis pelo
aquecimento do planeta, àquelas em processo de industrialização, cujas emissões
aumentaram nos últimos 50 anos.
No
decorrer dessa longa e complexa discussão, muitos avanços aconteceram, e as
dúvidas foram se dissipando. Atualmente todos os países acatam o alerta dos
cientistas quanto às catástrofes causadas pela elevação da temperatura da Terra
e à necessidade urgente de reduzir a intolerável quantidade de carbono presente
nos céus.
Nesse
contexto, e no intuito de ganhar tempo enquanto planejam uma futura transição
definitiva, os governos investem em duas prioridades consideradas emergenciais.
A
primeira delas é promover e financiar a geração de energia elétrica com base em
fontes limpas (água, luz solar, vento e biomassa). Nesse quesito, o Brasil é
referência, já que mais de 70% da eletricidade produzida no país provém de hidrelétricas.
Em
paralelo, o sistema de transporte de cargas e pessoas deverá ser eletrificado, passando
a consumir energia limpa e deixando de utilizar o petróleo como combustível.
A
segunda, por seu turno, é conservar e ampliar as superfícies cobertas por
florestas.
As árvores
retêm carbono, presente em mais de 70% dos troncos e galhos. Dessa forma, são
reconhecidas por sua contribuição para limpar o ar – uma vez que, ao se
desenvolverem, retiram da atmosfera todo o carbono de que necessitam.
Ambas as
prioridades, não precisa dizer, têm impacto direto sobre a Amazônia.
Na COP
15, realizada em Copenhague, Dinamarca, em dezembro de 2009, chegou-se a um
consenso que resolveu em boa parte o impasse financeiro – quando os países
reconheceram, primeiro, que todos são responsáveis pelo aquecimento global;
segundo, que a cota de responsabilidade de cada um, além de diferenciada, é
possível de ser calculada.
Mas com a
celebração do Acordo de Paris em 2015 e o compromisso assumido pelos
signatários, de reduzir suas emissões de carbono até 2030, ficou claro que a
substituição do petróleo na matriz energética mundial vai demandar um
investimento ainda mais exorbitante do que o esperado.
Por isso
a importância da COP 27, que teve como resultado mais significativo, por certo,
garantir fluxo financeiro permanente, em especial a partir da estruturação do
mercado internacional de carbono, para o financiamento da produção de energia
elétrica limpa, bem como de iniciativas econômicas alternativas ao desmatamento.
O mercado
de carbono em breve será realidade, e a Amazônia, por sua vocação florestal, é a
chave para o sucesso dessa complexa empreitada planetária.
*Engenheiro florestal
(UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR) e doutor em Desenvolvimento
Sustentável (UnB).
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