* Ecio Rodrigues
Com a
divulgação, pelo conceituado Inpe, da taxa de desmatamento na Amazônia para o
período entre 1/8/2019 e 30/7/2020, constata-se que a intensidade da destruição
florestal voltou a alcançar os altos níveis observados na década passada.
De
fato, é desanimador perceber que chegamos em 2020 com uma área total de 11.088 km²
de florestas derrubadas – número que se aproxima do patamar de destruição
observado em 2008 (12.911 km²), com um agravante: a tendência agora é de alta.
Significa
afirmar que existe a probabilidade, ou risco, como gostam os estatísticos, de chegar
a acontecer um novo e preocupante recorde – à semelhança do que ocorreu em
2004, quando o desmatamento atingiu a marca absurda de 27.000 km² –, caso
nenhuma ação reverta o movimento de subida.
A
regressão aos níveis de desmatamento observados até 2010 acende o alerta
mundial. Primeiro, porque vai na contramão do compromisso brasileiro assumido perante
o Acordo de Paris; segundo, porque naquela época o PIB nacional era bem superior
ao atual, quando o país atravessa um contexto de pandemia.
A
economia estava aquecida, o que explica, pelo menos em parte, o investimento no
desmatamento para criação extensiva de boi, atividade produtiva predominante na
Amazônia. Mas, hoje, a realidade é bem diferente.
Em
metade do período abrangido pela taxa de 2020, o aumento do desmatamento
ocorreu durante a pandemia – ou seja, em situação de isolamento social e
retração econômica.
Não
é possível, portanto, debitar na conta da dinâmica econômica a ampliação de
9,5% na taxa em relação a 2019. Por outro lado, a costumeira alegação de
ausência de investimento público em fiscalização está longe de ser um fato.
Ainda
no início da estação seca guarnições do Exército foram enviadas à Amazônia com
o propósito de intimidar o produtor que desmata. Chegou a ser decretada uma “moratória
do desmatamento”, o que liberou os fiscais da complexa tarefa de distinguir o
desmate ilegal do legalizado.
As habituais
e inócuas campanhas de sensibilização para o produtor não desmatar e queimar,
sob o lema romântico “Floresta é vida”, aconteceram às tantas.
O
fracasso das medidas fiscalizatórias transmite à sociedade a ideia equivocada
de que não existe solução para zerar o desmatamento, ilegal ou legalizado.
Por
sua vez, a percepção de que não há saída, que leva ao conformismo, levanta um
questionamento bastante embaraçoso, mas pertinente: que área de floresta
destruída todos os anos na Amazônia os brasileiros estamos dispostos a tolerar?
Da
parte dos cientistas e técnicos que defendem a alternativa produtiva ancorada na
exploração da biodiversidade florestal, o desmatamento zero não só é possível como
deveria ser meta prioritária de política pública.
Convenhamos,
a conversão de 2 hectares de biodiversidade florestal em 2 hectares de pasto (superfície
que alimenta uma única cabeça de gado, que vale menos que R$ 2.000), para além
de qualquer noção de legalidade ou ilegalidade, é pura estupidez econômica.
Quem
pode ser tolo o suficiente para defender proposta de tamanha agressividade
intelectual como a criação extensiva de gado na Amazônia?
Ainda
há esperança, o mundo cobrará que os brasileiros honrem o Acordo de Paris – pacto
que prevê a organização de uma nova economia, dita de baixo carbono.
No
negócio da biodiversidade florestal está a resposta para zerar o desmatamento
na Amazônia, nunca no Exército ou no fiscal do Ibama.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
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