domingo, 13 de dezembro de 2020

Desmatamento na Amazônia volta a alcançar as altas taxas da década passada

 

* Ecio Rodrigues

Com a divulgação, pelo conceituado Inpe, da taxa de desmatamento na Amazônia para o período entre 1/8/2019 e 30/7/2020, constata-se que a intensidade da destruição florestal voltou a alcançar os altos níveis observados na década passada.

De fato, é desanimador perceber que chegamos em 2020 com uma área total de 11.088 km² de florestas derrubadas – número que se aproxima do patamar de destruição observado em 2008 (12.911 km²), com um agravante: a tendência agora é de alta.

Significa afirmar que existe a probabilidade, ou risco, como gostam os estatísticos, de chegar a acontecer um novo e preocupante recorde – à semelhança do que ocorreu em 2004, quando o desmatamento atingiu a marca absurda de 27.000 km² –, caso nenhuma ação reverta o movimento de subida.

A regressão aos níveis de desmatamento observados até 2010 acende o alerta mundial. Primeiro, porque vai na contramão do compromisso brasileiro assumido perante o Acordo de Paris; segundo, porque naquela época o PIB nacional era bem superior ao atual, quando o país atravessa um contexto de pandemia.

A economia estava aquecida, o que explica, pelo menos em parte, o investimento no desmatamento para criação extensiva de boi, atividade produtiva predominante na Amazônia. Mas, hoje, a realidade é bem diferente.

Em metade do período abrangido pela taxa de 2020, o aumento do desmatamento ocorreu durante a pandemia – ou seja, em situação de isolamento social e retração econômica.

Não é possível, portanto, debitar na conta da dinâmica econômica a ampliação de 9,5% na taxa em relação a 2019. Por outro lado, a costumeira alegação de ausência de investimento público em fiscalização está longe de ser um fato.

Ainda no início da estação seca guarnições do Exército foram enviadas à Amazônia com o propósito de intimidar o produtor que desmata. Chegou a ser decretada uma “moratória do desmatamento”, o que liberou os fiscais da complexa tarefa de distinguir o desmate ilegal do legalizado.

As habituais e inócuas campanhas de sensibilização para o produtor não desmatar e queimar, sob o lema romântico “Floresta é vida”, aconteceram às tantas.

O fracasso das medidas fiscalizatórias transmite à sociedade a ideia equivocada de que não existe solução para zerar o desmatamento, ilegal ou legalizado.

Por sua vez, a percepção de que não há saída, que leva ao conformismo, levanta um questionamento bastante embaraçoso, mas pertinente: que área de floresta destruída todos os anos na Amazônia os brasileiros estamos dispostos a tolerar?

Da parte dos cientistas e técnicos que defendem a alternativa produtiva ancorada na exploração da biodiversidade florestal, o desmatamento zero não só é possível como deveria ser meta prioritária de política pública.

Convenhamos, a conversão de 2 hectares de biodiversidade florestal em 2 hectares de pasto (superfície que alimenta uma única cabeça de gado, que vale menos que R$ 2.000), para além de qualquer noção de legalidade ou ilegalidade, é pura estupidez econômica.

Quem pode ser tolo o suficiente para defender proposta de tamanha agressividade intelectual como a criação extensiva de gado na Amazônia?

Ainda há esperança, o mundo cobrará que os brasileiros honrem o Acordo de Paris – pacto que prevê a organização de uma nova economia, dita de baixo carbono.

No negócio da biodiversidade florestal está a resposta para zerar o desmatamento na Amazônia, nunca no Exército ou no fiscal do Ibama.

 

*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.

 

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