* Ecio Rodrigues
Ao proclamar a década que se inicia em
2021 como “Década da Restauração de Ecossistemas”, a ONU confere prioridade e,
por conseguinte, dá visibilidade a um dos mais graves desequilíbrios ambientais
causados pelo homem em âmbito planetário, a destruição dos ecossistemas – problema
que alcançou um nível tal que pode comprometer a produção de alimentos e, o que
é ainda mais preocupante, a oferta de água potável.
Essa foi a conclusão – um tanto óbvia,
por sinal – a que chegou relatório publicado em junho último pelo Pnuma (Programa
das Nações Unidas para o Meio Ambiente), em conjunto com a FAO (Organização das
Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura).
Conforme indicam os dados científicos
apresentados no relatório Pnuma/FAO, a humanidade, hoje, explora ou consome 60%
a mais dos recursos ecossistêmicos disponíveis na Terra, em especial os relacionados
a água, ar e biodiversidade.
Essa sobre-exploração compromete
drasticamente a regeneração dos ecossistemas, sendo sua recuperação medida de
máxima urgência. Contudo, trata-se de empreitada hercúlea, que exige esforços
políticos mundiais e expressivo aporte financeiro.
Para a ONU, as ações devem contemplar
duas frentes, a saber, contenção da degradação atual e restauração do que já foi
destruído – entendendo-se esta última como:
(...) o processo de interromper e reverter a degradação,
resultando em ar e água mais limpos, mitigação de condições climáticas extremas,
melhor saúde humana e biodiversidade recuperada, incluindo melhor polinização
de plantas. A restauração abrange um amplo continuum de práticas, desde o
reflorestamento até a reumidificação de turfeiras e a reabilitação de corais.
Ela contribui para o alcance de vários Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS), incluindo saúde, água limpa e paz e segurança, e para os objetivos das
três "Convenções do Rio" sobre Clima, Biodiversidade e
Desertificação.
No caso dos ecossistemas terrestres como
o constituído pela biodiversidade florestal da Amazônia, serão necessários
investimentos equivalentes a 200 bilhões de dólares anuais pelos próximos 10
anos. A meta é restaurar um bilhão de hectares até 2030.
Sem embargo, afora os benefícios
ecológicos e econômicos trazidos pelo restabelecimento em si dos serviços ecossistêmicos prestados pela biodiversidade, há
que se ter em conta que o controle do desmatamento e o plantio e regeneração de
florestas nativas degradadas representam um passo significativo para a humanidade
reverter a crise ecológica decorrente do aquecimento global.
Afinal, não há dúvida científica quanto
à importância das árvores para a retirada e imobilização do carbono presente na
atmosfera, gás considerado o principal agente causador do efeito estufa – o que,
por sua vez, está na origem das mudanças climáticas.
De outra banda, estima-se que a cada
dólar destinado a cobrir os custos da restauração dos ecossistemas haverá um
retorno para a economia de até 30 dólares.
Especificamente em relação à Amazônia, a
redução do desmatamento e o reflorestamento de áreas devastadas traduzem-se em melhoria da
dinâmica econômica local e, além disso, em
cumprimento dos compromissos assumidos pelos brasileiros no âmbito do Acordo de
Paris, pacto celebrado em 2015.
Enfim, como assevera o Pnuma, os países
estão convocados a promover a proteção e revitalização dos ecossistemas em todo
o mundo, para o benefício das pessoas e da natureza.
Aos incrédulos, a ONU dá um recado
claro: o cerco em torno do desmatamento na Amazônia está se fechando. Só não entende quem não é capaz de enxergar o futuro.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário