* Ecio Rodrigues
Não
se deve confundir matriz energética com
matriz elétrica.
A
primeira se refere à oferta total de energia – da lenha queimada em fornos ao
combustível consumido para o transporte de cargas e pessoas. Quanto à segunda,
diz respeito especificamente a geração de energia elétrica.
Em
ambos os casos, contudo, o Brasil está muito bem na foto.
Graças
às águas abundantes nos rios brasileiros, em especial nos leitos amazônicos, quase
50% da matriz energética do país é gerada por fontes renováveis. Trata-se de
uma marca alcançada por poucos – um grupo muito seleto de nações que ostenta os
menores níveis de dependência em relação ao petróleo, e que pode se vangloriar
por isso.
Enquanto,
em 2021, a participação das fontes renováveis na produção mundial de energia foi
de apenas 13,9%, no Brasil, diante da oferta proveniente das hidrelétricas e da
importante contribuição trazida pelo etanol e pela biomassa florestal, essa participação
chegou a 48,6%.
Esses
dados, ressalte-se – fornecidos pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética), estatal
vinculada ao Ministério das Minas e Energia –, não incluem as taxas de geração
por fonte nuclear, que são limitadas e tendem a se restringir ainda mais, já
que Alemanha e outros países da Europa e da Ásia planejam desligar suas
respectivas usinas.
De
outra banda, e ainda segundo a EPE, nada menos que 65,2% da eletricidade aqui produzida
se origina da força das águas. Outros 9,1%, por seu turno, provêm da queima de
biomassa; 8,8% resultam da ação dos ventos e 1,7%, do aproveitamento da luz
solar.
No
total – e por conta, sobretudo, das 158 hidrelétricas em operação no país –, as
fontes renováveis respondem por mais de 80% da matriz elétrica brasileira, proporção
muito superior aos 30% apurados em face da matriz mundial.
Por
óbvio, e considerando ademais os compromissos assumidos pelo Brasil perante o
Acordo de Paris, a previsão é que essa proporção se amplie significativamente até
2030.
Afinal,
em vista da transição que está em curso na indústria automobilística, do motor
a combustão para o elétrico (saiba mais aqui: http://www.andiroba.org.br/artigos/?post_id=3758), é necessário aumentar
a participação da matriz elétrica na matriz energética nacional, de modo a possibilitar
a assimilação da demanda trazida pela chegada dos novos veículos movidos a eletricidade
– primeiro os de passeio, depois os utilitários e, por fim, os caminhões de
carga pesada.
Muito
embora já existam no Brasil, como dito, mais de 150 hidrelétricas em
funcionamento (contando apenas as de médio e grande porte), gerando energia
limpa e posicionando o Brasil como referência mundial
no assunto, parte expressiva do movimento ambientalista ainda se opõe à instalação
desses empreendimentos, principalmente quando o rio a ser represado se situa na
Amazônia.
A absurda
gritaria em torno da construção das usinas de Belo Monte, no Pará, e de Jirau e
Santo Antônio, em Rondônia, e que trouxe relevante aumento nos custos, causando
prejuízos irreparáveis ao país, dá uma medida das dificuldades enfrentadas todas
as vezes que uma hidrelétrica começa a ser levantada.
A
despeito de contar com o inexplicável apoio de meia dúzia de acadêmicos, a
resistência dos ativistas, longe de se justificar, contraria a ciência – e o
bom senso!
Ocorre
que, além de configurarem alternativa sustentável para a geração de energia, adequando-se
à rede fluvial, as hidrelétricas, juntamente com as caldeiras alimentadas por
biomassa florestal (madeira), se traduzem em opção econômica prioritária para a
Amazônia.
A geração
de energia elétrica renovável, que representa um ativo excepcional, pode ser a
saída para tirar a região da persistente estagnação econômica decorrente da
criação extensiva de boi.
Todavia,
e ao contrário do que muita gente pensa, o que existe em fartura na Amazônia
não é o vento e a luz do sol, mas sim, água e madeira.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal (UFRuRJ), mestre
em Política Florestal (UFPR) e doutor em Desenvolvimento Sustentável (UnB).
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