* Ecio Rodrigues
Apresentando
baixo potencial para geração de energia fotovoltaica e menor ainda para energia
eólica, a porção do território nacional coberta pela maior floresta tropical do
mundo possui água e madeira em abundância.
Contudo,
se por um lado não existem dúvidas científicas em relação à viabilidade
econômica e adequação ecológica tanto do aproveitamento da força das águas
quanto da biomassa florestal para a produção de energia elétrica, por outro, nota-se,
arraigado no movimento ambientalista, um profundo preconceito contra o uso dessas
fontes renováveis.
Como
todo preconceito, a rejeição dos ambientalistas à água e à madeira não pode ser
racionalmente explicada – a despeito de contar com o apoio de alguns acadêmicos,
que, por sua vez, costumam pautar a imprensa.
E,
como em geral acontece, o preconceito obedece a certa graduação. De sorte que,
sendo o repúdio às caldeiras maior ainda do que às hidrelétricas, para os
ativistas ambientais o emprego da madeira na geração elétrica é algo abominável,
fora de cogitação.
Não precisa
ir muito longe para demonstrar o quanto estão equivocados.
É
farta a literatura científica que comprova os benefícios sociais, econômicos e
ecológicos advindos da produção de eletricidade com base na biomassa florestal
– matéria-prima que, ao contrário do óleo diesel (ainda hoje muito usado na
região) é compatível com a realidade amazônica.
Seja
no cenário urbanizado das capitais e maiores cidades, seja no contexto dos
pequenos municípios e de localidades isoladas, o potencial presente na Amazônia
para o uso da madeira como fonte de energia renovável configura significativa vantagem
comparativa, sobretudo no que respeita à ascendente economia de baixo carbono.
Não
à toa, durante a COP 26, realizada ano passado na Escócia, a ONU tomou as
rédeas da regulação do mercado de carbono em todos os continentes, objetivando
potencializar a utilização de fontes limpas de energia, sendo a madeira uma das
principais.
Dessa
forma, e diante do esforço para descarbonizar a economia planetária, onde
houver floresta nativa com disponibilidade de madeira, a queima em caldeiras
para fornecimento de eletricidade será priorizada. Esse é o pensamento vigente
em todo o mundo, em especial depois da celebração do Acordo de Paris.
Com
o agravamento da crise ecológica, o que se percebe é que a humanidade acordou –
e hoje o produto madeira é contemplado sob o mesmo ponto de vista pelo qual se distinguem
as florestas, nativas e cultivadas.
Simples
de entender. Afinal, cada árvore que é transformada em tora, fatiada em cavacos
e levada ao fogo em caldeiras, para o fim de aquecer a água ali depositada e
gerar eletricidade, retira da atmosfera a mesma quantidade de carbono desprendida
na fumaça.
O
resultado é uma energia produzida com balanço zero na equação de carbono, numa
relação perfeita de equilíbrio.
Mas não
é só no balanço de carbono que o emprego da madeira como fonte renovável de
energia é estratégico para a Amazônia.
Ocorre
que tanto os procedimentos de derrubada, transporte e beneficiamento da tora,
pelo lado do produtor de energia, quanto, pelo lado do produtor rural, de
preparação da muda, plantio e acompanhamento da árvore são executados de acordo
com as técnicas estipuladas pelo manejo florestal.
Ora,
não é necessário grande empenho para prognosticar, por efeito da aplicação
dessa tecnologia, o surgimento de significativo número de vagas de emprego compatíveis
com a especialidade de um crescente contingente de técnicos e trabalhadores na região.
Agora,
conjecture-se que dezenas de cidades amazônicas – como é o caso de Marechal Thaumaturgo,
Manoel Urbano, Porto Walter, Santa Rosa do Purus, Jordão, situadas no interior
do Acre – façam a transição da geração a óleo diesel para a geração por biomassa
florestal.
Conjecture-se
ainda que centenas de empreendimentos madeireiros – mesmo pequenas serrarias – podem
adquirir caldeiras, produzir eletricidade e vender a energia gerada para todo o
país, por meio do SIM (Sistema Interligado Nacional).
Conjecture-se,
por fim, o impacto positivo dessa produção sobre a realidade de lugares longínquos,
que, a exemplo do Acre, se assentam na periferia da economia brasileira.
Fácil
concluir que pouco importa a resistência dos ambientalistas. Dada sua
disponibilidade, a madeira se converterá num tentador diferencial de mercado no
âmbito do setor de geração de energia elétrica na Amazônia.
Moral
da história: como demonstra a experiência humana, o preconceito subsiste apenas
no obscurantismo, desaparecendo com a claridade que a ciência traz.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal (UFRuRJ), mestre
em Política Florestal (UFPR) e doutor em Desenvolvimento Sustentável (UnB).
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