* Ecio Rodrigues
Tem sido
comum a imprensa se referir à federação partidária (introduzida pela reforma
eleitoral de 2021) como instituto similar à coligação, porém não é isso o que a
lei prevê. A bem da verdade, ao formarem uma federação os partidos passam a
atuar como apenas uma sigla, isto é, como uma agremiação nacional com estatuto único.
E diversamente
da coligação, que pode acabar a qualquer momento, a continuidade da federação é
obrigatória até o final do mandato conquistado. Portanto, seria ingenuidade
imaginar que, no frigir dos ovos, a sigla predominante na federação não vai se
esforçar para absorver as menores antes das próximas eleições gerais.
Em suma,
emprestando o termo à biologia, o que ocorre entre os partidos da federação é
um processo de fagocitose. Como ensinou a professora de ciências lá atrás, na
fagocitose a célula absorve outros organismos e resíduos celulares.
Ou seja, o
partido menor (que não conseguiu ultrapassar a cláusula de barreira e por isso foi
obrigado a entrar numa federação) é fagocitado pelo maior.
Mas o cerne
da discussão está no movimento de aproximação entre os partidos.
Afinal, é
difícil entender os motivos que levaram o Partido Verde, que em tese tem
afinidade com os partidos verdes europeus, a se vincular ao PT e PC do B, seus
antagonistas por princípio ideológico e teórico.
Da mesma maneira
que é difícil para a Rede Sustentabilidade justificar, sob alguma coerência ou
preceito da ciência política, as razões pelas quais se uniu ao PSol.
Historicamente,
o tema da sustentabilidade ecológica não se coaduna com os conteúdos debatidos sob
a perspectiva da luta de classes, sendo considerado – por comunistas, socialistas,
e simpatizantes – uma preocupação essencialmente burguesa, que não diz respeito
à classe trabalhadora.
Tal percepção
não se alterou com o surgimento dos partidos verdes europeus, no pós-guerra.
Dessa
forma, pactos internacionais como o Acordo de Paris geralmente são entrevistos na
condição de instrumentos do imperialismo americano predominante no mundo e, por
óbvio, hegemônico na ONU.
Por sua
vez, as organizações não governamentais, quase sempre enxergadas com
desconfiança (já que não lhes competiria cumprir um papel que é unicamente do
Estado), costumam ser reputadas como uma espécie de excrescência capitalista – uma
versão camuflada de cooperação para perpetuação do capitalismo.
Enfim, não
são poucas as incoerências que as federações integradas pela Rede e pelo PV trazem
em seu rastro. Com relação à Amazônia pelo menos 3 podem ser de pronto destacadas.
Rede, PV
e ambientalistas deveriam defender, por princípio dogmático e científico, o
desmatamento zero na Amazônia; PT e PSol, por outro lado, justificam a
destruição florestal como direito dos trabalhadores e pequenos produtores
rurais, e também como resposta à suposta estratégia do imperialismo americano.
Rede e PV
sabem, ou têm obrigação de saber, que as hidrelétricas produzem energia limpa e
renovável e, além disso, representam uma saída econômica adequada à realidade
do ecossistema florestal amazônico, que depende do estoque de água para manter a
umidade.
PT e PSol,
tradicionalmente, como já evidenciaram em diversas oportunidades, preferem as termoelétricas
a diesel às hidrelétricas, mesmo não havendo ciência nessa opção.
Ambientalistas
reconhecem na criação extensiva de gado o agente principal do desmatamento e das
queimadas, as duas maiores mazelas ambientais da Amazônia.
PT e PSol
defendem a adesão do pequeno e médio produtor ao negócio da criação extensiva
de gado, a despeito da reconhecida animosidade que mantêm contra a atividade do
agronegócio em si.
No
ambientalismo político à brasileira, o que tem mais peso não são as pautas
ambientais defendidas mundo afora, mas a agenda do comunismo/socialismo.
*Engenheiro
florestal (UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR) e doutor em
Desenvolvimento Sustentável (UnB).
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