* Ecio Rodrigues
Nos
últimos cinco meses, desde maio de 2022, a quantidade de queimadas no Acre
superou a média mensal dos últimos 24 anos sendo que no dia 27, para ser bem
exato, ocorreu o recorde para o mês de setembro.
Desde
1998, quando o conceituado Inpe iniciou as medições sobre focos de calor na
Amazônia, nunca em setembro se ultrapassou o recorde de 6.506 queimadas.
Para
os que não entendem, queimadas são realizadas pelo agronegócio da criação extensiva
de boi.
Estudos
recentes demonstram que a incidência de focos de calor na mata ciliar é maior
que aquela observada fora da faixa de floresta fixada pelo Código Florestal
para proteção dos rios na Amazônia.
Por
outro lado, nos últimos 40 anos o desmatamento em toda bacia hidrográfica do
rio Acre causou uma taxa de erosão que ultrapassou o ponto da capacidade
natural de regeneração.
Em
síntese pode-se afirmar, com muita segurança científica, que somente com uma ação
decisiva do governo que assumirá em janeiro de 2023 o rio Acre poderá reverter a
tendência de degradação que acarreta, com periodicidade anual, secas e
alagações extremas.
O
fim desse cenário desanimador todo mundo conhece. Exemplos como o do canal da
maternidade se repetem na capital e nos oito municípios do interior abastecidos
pelo rio Acre.
Explicando
melhor, o ponto de não retorno às características hidrológicas de origem acontece,
em síntese, assim: a degradação do rio ultrapassa o intolerável; até que não há
saída técnica que promova a resiliência e a restauração ecológica do rio; daí as
taxas de dejetos domésticos e industriais transformam o rio em canal de esgoto.
Continuando
o processo, a população deixa de reconhecer a importância ecológica, econômica e
cultural do rio; a concretagem do ex-rio agora canal de esgoto se transforma em
demanda eleitoral; e, enfim, a canalização do esgoto e urbanização da margem
será a única e nefasta opção.
Por
óbvio, a solução para resgatar as características hidrológicas do rio Acre é aumentar
sua resiliência.
Entenda-se
por resiliência a capacidade natural que os cursos de água possuem de agüentar
e se recuperar das agressões, em especial o assoreamento decorrente da erosão
que, por sua vez, se origina no desmatamento em toda bacia hidrográfica.
Concluindo,
a resiliência do rio está diretamente vinculada ao equilíbrio hidrológico,
intensidade de sua vazão, desobstrução do leito e uma série de variáveis, sendo
a principal delas o desmatamento nas margens e na área de influencia direta da
bacia hidrográfica.
No rio
Acre, tanto a retirada da mata ciliar que chega a 70% da faixa prevista no Código
Florestal, quanto na área crítica situada entre o leito do rio e a BR 317 em
que o desmatamento em algumas cidades supera 80%, o comprometimento da
resiliência do rio passou do limite.
Finalmente,
discursos e declarações de amor, repetidos para angariar simpatias e votos, estão
longe de atender a urgência da política pública que o rio Acre vai demandar em
2023.
Aos
eleitores indiferentes à degradação ecológica, restaria ainda apelar para a
importância do rio Acre na condição de única fonte de abastecimento urbano de
água tratada para a imensa maioria da população acreana.
Hoje,
dia dois de outubro, no momento do voto, pense na resiliência do rio Acre.
*Engenheiro Florestal
(UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR) e doutor em Desenvolvimento
Sustentável (UnB).
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