* Ecio Rodrigues
Depois da
publicação do 6º relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), que chocou o mundo com o alerta
catastrófico sobre o aquecimento do planeta, outra notícia desagradável: julho
de 2021 bateu recorde de calor.
Não foi a
primeira vez que julho foi considerado o mês mais quente da história – pelo
menos desde que foi possível esse tipo de medição, ainda no início da Revolução
Industrial, em 1880.
O recorde
anterior ocorreu em 2015, de acordo com os cálculos da Noaa, a agência oceânica
e atmosférica americana (para saber mais, acessar http://www.andiroba.org.br/artigos/?post_id=3127).
Divulgado
em 13 de agosto último, o registro da Noaa para julho de 2021 reforça a
tendência de aquecimento global reiteradamente apontada pelo IPCC – que vem
prevendo novos recordes nos próximos anos se medidas de contenção não forem imediatamente
adotadas.
De
maneira unânime, o que não costuma acontecer no âmbito da ciência, os cientistas
recomendam aos países a implementação de ações e projetos com o objetivo de reduzir,
no curto prazo, o consumo de combustíveis fósseis (leia-se: petróleo).
Entre os
setores intensivos em emissão de dióxido de carbono (considerado o principal
gás do aquecimento), os prioritários para a transição para uma matriz limpa são
o setor de energia elétrica e o de transporte.
A construção
de usinas para a geração de energia hídrica, solar e eólica, bem como a substituição
do sistema de combustão (diesel e gasolina) pelo elétrico nos veículos automotores
estão no topo da lista dos bancos e fundos de investimentos para o financiamento
de projetos.
Inclusive,
o Banco Mundial e o Banco Interamericano, os dois mais importantes agentes
financeiros que atuam nas Américas, conferiram à geração de energia elétrica
limpa e aos motores elétricos o status de assunto emergencial.
Com relação
aos sumidouros de carbono (como as florestas são denominadas pelo sistema
financeiro), os cientistas da Noaa e do IPCC são veementes na advertência de que
é preciso urgentemente ampliar as áreas de floresta e, mais urgente ainda,
zerar o desmatamento na Amazônia.
Não à
toa, em assembleia-geral realizada no início do ano, a ONU proclamou a década
que começa em 2021 como “Década da Restauração de Ecossistemas” – induzindo os países
a investir vultosos recursos no plantio de florestas para recuperar, ou
restaurar, ecossistemas degradados.
É aqui
que surge de forma destacada a meta do desmatamento zero na Amazônia, há muito cobrada
pela Europa e, mais recentemente, pelos Estados Unidos.
Não são
necessários grandes esforços de análise geopolítica para perceber que o cerco em
torno do desmatamento da Amazônia está se fechando, sendo que o mundo já não se
dispõe a tolerar a ampliação da taxa anual, como vem ocorrendo desde 2012 (único
ano em que foram desmatados menos de 5.000 km2 de florestas).
Quando sucessivos
recordes de calor nos levam a suportar, repetidamente, os meses e anos mais
quentes de nossas vidas, as consequências são secas, alagações, incêndios,
tsunamis e outras tragédias decorrentes das mudanças climáticas.
O cerco
está se fechando, e para a Amazônia – tanto em termos ambientais quanto
econômicos e sociais – só há uma saída: zerar o desmatamento.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
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