* Ecio Rodrigues
Em documento
atípico, por conter termos categóricos que mesclam ameaças e alertas, os mais
de 3.000 cientistas, incluindo 20 brasileiros, que integram o IPCC (Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) apresentaram o 6º relatório produzido
pela organização desde sua criação, em 1988.
Publicado
em 8 de agosto último, o pronunciamento do IPCC traz conclusões acerca das evidências
indicadas no 1º relatório, divulgado em 1990 – com relação ao aumento de
temperatura do planeta e, não menos importante, à participação do Homo sapiens nesse processo.
As
respostas são incisivas e inquietantes. Não há nenhuma dúvida quanto à constatação
de que o planeta está esquentando, restando apenas aferir se a elevação da
temperatura na Terra será de 10, 1,50 ou 20 até
2050.
A péssima
notícia é que, nas 3 simulações empreendidas, ficou demonstrada a ocorrência de
tragédias ambientais – que, entre outras implicações, afetarão parte
considerável das populações que vivem próximas ao nível do mar, como é o caso dos
habitantes da maioria das capitais amazônicas.
A única
saída, como defende o IPCC, é atacar as causas do aumento de temperatura, de
modo a estabilizar o termômetro. Mas é necessário bem mais empenho do que o
despendido hoje para neutralizar os agentes do aquecimento.
E o IPCC
foi taxativo quanto ao fato de que a culpa pelo aquecimento é exclusivamente da
humanidade.
São as
atividades produtivas, levadas a efeito para atender à demanda humana por alimentação,
moradia, transporte e vestuário – para ficar apenas nas necessidades mais básicas
–, que lançam aos céus uma quantidade de gases impossível de ser assimilada
pelo planeta, principalmente CO2 (dióxido de carbono), o gás com maior
participação na elevação da temperatura global.
Os países
mais industrializados, quase todos integrantes do Hemisfério Norte, devem
encontrar meios de reduzir suas emissões de carbono sem comprometer a capacidade
de satisfazer às necessidades das gerações atuais e futuras.
De outra
banda, os países do Hemisfério Sul – cujas emissões provêm basicamente do agronegócio
– devem realizar sua produção agropecuária sem comprometer áreas de florestas
nativas.
É aqui
que entra a Amazônia e a responsabilidade dos brasileiros para com o
mundo.
O planeta
aquece por conta, sobretudo, de dois fatores: consumo de combustíveis fósseis (especialmente
para viabilizar as indústrias); e avanço do agronegócio sobre áreas de
florestas. Pela primeira vez, o IPCC dimensionou as duas principais
contribuições humanas para as mudanças climáticas.
Ou seja, não
adianta levantar questionamentos e suspeições, o desmatamento contribui para o
aquecimento do planeta – isso é fato científico.
Dispensável
ressaltar que, no que respeita às mudanças climáticas, o IPCC é a mais capacitada,
conceituada, influente e representativa autoridade científica do mundo, sendo
inquestionáveis suas conclusões.
Não à
toa, o rigoroso e abrangente trabalho desenvolvido por esse organismo, que
analisa os resultados das pesquisas científicas sobre o clima em âmbito mundial,
foi laureado com o Nobel da Paz em 2007.
Em
síntese, os renomados cientistas do IPCC advertem e pressionam os países, a fim
de que assumam imediatamente medidas de redução da quantidade de carbono
produzido – para o bem da humanidade.
Cabe aos
brasileiros mostrar ao mundo que a meta de zerar o desmatamento na Amazônia será
alcançada – até 2030.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
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