quinta-feira, 18 de novembro de 2021

COP 26 trouxe grandes avanços para a descarbonização do planeta

* Ecio Rodrigues

Muitos foram às ruas em Glasgow, Escócia, para reivindicar dos gestores e autoridades que participaram da COP 26, conferência da ONU sobre mudanças climáticas que se encerrou na última sexta, 12 de novembro, metas mais rigorosas para contenção do aquecimento global.

O tom cético em relação ao que vem sendo negociado há 30 anos, desde a Rio 92, ocasião em que foi assinada a Convenção do Clima, tem razão de ser quando se confronta o impacto das catástrofes ambientais como secas e tsunamis com a tímida resposta dos países para duas prioridades: substituir o petróleo na produção de energia e zerar o desmatamento das florestas no mundo (especialmente, claro, na Amazônia).

Ninguém é ingênuo, por suposto, a ponto de crer que a superação desses desafios seria empreitada simples. Afinal, toda a estrutura existente no planeta, e que possibilitou a universalização do acesso à energia elétrica, fator crucial para a elevação do IDH de um país ou localidade, foi organizada com base no uso imoderado de carbono.

Para descarbonizar a economia é preciso uma extraordinária concentração de esforços – como talvez só se tenha visto no caso da pandemia de covid-19, quando a humanidade se mobilizou para encontrar uma vacina –, no sentido de viabilizar o uso de fontes limpas na geração de energia. Mas também é preciso, por outro lado, predisposição para correr risco de apagões.

O problema é que, de forma geral, a resposta dos países tem se mostrado pouco satisfatória, tanto com referência aos recursos financeiros necessários para substituir o petróleo e o carvão mineral da matriz energética mundial quanto no que respeita ao acesso dos produtores da Amazônia ao mercado de carbono (de maneira que venham a ser remunerados pela conservação da biodiversidade florestal).

Pode-se dizer – sem ingenuidade, mas sob certo otimismo – que alguns passos foram dados na COP 26 para assegurar aporte financeiro ao processo de descarbonização. Dois deles merecem destaque.

O primeiro se refere à aliança formada por mais de 400 bancos e fundos de investimentos do mundo inteiro, no intuito de atender aos termos pactuados no Acordo de Paris.

Trata-se da Aliança Financeira de Glasgow para Zero Emissões Líquidas (ou GFANZ, na sigla em inglês), que vai promover e monitorar o investimento em empreendimentos que envolvem plantios de árvores ou conservação de florestas nativas, diferenciando-os de projetos pseudo-sustentáveis – ou seja, aqueles que se disfarçam sob termos como “verde” e “ecológico” para obter recursos, mas que na verdade estão na contramão da sustentabilidade planetária.

No decorrer das negociações, a GFANZ anunciou que vai destinar o vultoso orçamento de US$ 130 trilhões ao financiamento, nos próximos 30 anos, de projetos voltados para a descarbonização, com foco em energia elétrica e desmatamento zero.

O segundo passo, por sua vez, remete à sistematização de regras de operação para o sistema previsto no protocolo de Quioto, que permite a negociação de créditos de carbono entre as indústrias que jogam fumaça na atmosfera e os produtores que dispõem de terras cobertas por florestas.

Não há dúvida de que o funcionamento de um mercado mundial de carbono organizado e regulamentado pela ONU contribuirá de maneira significativa para o fim do desmatamento na Amazônia. E isso se justifica por uma simples razão.

Quando o preço do carbono estocado for contabilizado, o valor econômico de cada hectare de floresta vai superar o valor do hectare desmatado para instalação de pasto.

 

*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.

 

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