* Ecio Rodrigues
Muitos
foram às ruas em Glasgow, Escócia, para reivindicar dos gestores e autoridades que
participaram da COP 26, conferência da ONU sobre mudanças climáticas que se encerrou
na última sexta, 12 de novembro, metas mais rigorosas para contenção do
aquecimento global.
O tom
cético em relação ao que vem sendo negociado há 30 anos, desde a Rio 92, ocasião
em que foi assinada a Convenção do Clima, tem razão de ser quando se confronta o
impacto das catástrofes ambientais como secas e tsunamis com a tímida resposta dos
países para duas prioridades: substituir o petróleo na produção de energia e
zerar o desmatamento das florestas no mundo (especialmente, claro, na Amazônia).
Ninguém é
ingênuo, por suposto, a ponto de crer que a superação desses desafios seria empreitada
simples. Afinal, toda a estrutura existente no planeta, e que possibilitou a
universalização do acesso à energia elétrica, fator crucial para a elevação do
IDH de um país ou localidade, foi organizada com base no uso imoderado de
carbono.
Para descarbonizar
a economia é preciso uma extraordinária concentração de esforços – como talvez
só se tenha visto no caso da pandemia de covid-19, quando a humanidade se mobilizou
para encontrar uma vacina –, no sentido de viabilizar o uso de fontes limpas na
geração de energia. Mas também é preciso, por outro lado, predisposição para correr
risco de apagões.
O
problema é que, de forma geral, a resposta dos países tem se mostrado pouco
satisfatória, tanto com referência aos recursos financeiros necessários para
substituir o petróleo e o carvão mineral da matriz energética mundial quanto no
que respeita ao acesso dos produtores da Amazônia ao mercado de carbono (de
maneira que venham a ser remunerados pela conservação da biodiversidade
florestal).
Pode-se
dizer – sem ingenuidade, mas sob certo otimismo – que alguns passos foram dados
na COP 26 para assegurar aporte financeiro ao processo de descarbonização. Dois
deles merecem destaque.
O
primeiro se refere à aliança formada por mais de 400 bancos e fundos de
investimentos do mundo inteiro, no intuito de atender aos termos pactuados no Acordo
de Paris.
Trata-se
da Aliança Financeira de Glasgow para Zero Emissões Líquidas (ou GFANZ, na
sigla em inglês), que vai promover e monitorar o investimento em
empreendimentos que envolvem plantios de árvores ou conservação de florestas
nativas, diferenciando-os de projetos pseudo-sustentáveis – ou seja, aqueles que
se disfarçam sob termos como “verde” e “ecológico” para obter recursos, mas que
na verdade estão na contramão da sustentabilidade planetária.
No
decorrer das negociações, a GFANZ anunciou que vai destinar o vultoso orçamento
de US$ 130 trilhões ao financiamento, nos próximos 30 anos, de projetos voltados
para a descarbonização, com foco em energia elétrica e desmatamento zero.
O segundo
passo, por sua vez, remete à sistematização de regras de operação para o
sistema previsto no protocolo de Quioto, que permite a negociação de créditos
de carbono entre as indústrias que jogam fumaça na atmosfera e os produtores que
dispõem de terras cobertas por florestas.
Não há
dúvida de que o funcionamento de um mercado mundial de carbono organizado e
regulamentado pela ONU contribuirá de maneira significativa para o fim do desmatamento
na Amazônia. E isso se justifica por uma simples razão.
Quando o preço
do carbono estocado for contabilizado, o valor econômico de cada hectare de floresta
vai superar o valor do hectare desmatado para instalação de pasto.
*Professor Associado da Universidade Federal do
Acre, engenheiro florestal, mestre em Política Florestal pela Universidade
Federal do Paraná e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de
Brasília.
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