* Ecio Rodrigues
Dois
pontos são centrais nas negociações em curso na COP 26, conferência da ONU sobre
mudanças climáticas que está se realizando em Glasgow, Escócia, e vai até 12 de
novembro – desmatamento zero e energia limpa.
Embora o
primeiro diga respeito a todas as florestas existentes no planeta, ninguém
duvida que a devastação da floresta amazônica é, de fato, o que mais chama a atenção
e mais interessa à humanidade.
Não à toa,
as discussões se reportam ao compromisso assumido pelo Brasil perante o Acordo
de Paris, assinado em 2015 – de erradicar o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030.
Acontece que,
como reiterado diversas vezes nesse espaço, para os países não existe distinção
entre desmatamento ilegal/legalizado, posto que um e outro produzem os mesmos
efeitos deletérios para o clima (para saber mais, acessar http://www.andiroba.org.br/artigos/?post_id=5148&_ano=2021).
Em
resumo, se em 2015 a promessa dos brasileiros foi recebida com certo incômodo, diante
de sua timidez (o que evidenciava passividade e ausência de ousadia), na COP 26
a ONU e o mundo cobram a estipulação de uma data-limite para o fim da destruição
da floresta tropical na Amazônia.
De outra
banda, e da mesma forma como ocorre em relação ao desmatamento zero, para os
especialistas em mudanças climáticas já não é possível esperar até 2030 para abolir
o uso de combustíveis fósseis (leia-se: petróleo) na geração de energia elétrica.
Por isso,
projetos destinados à construção e instalação de usinas de geração de energia
mediante captação da luz solar, aproveitamento dos ventos, queima de biomassa
florestal e uso da força das águas já são considerados prioridade máxima pelos
fundos de investimentos e organismos multilaterais de cooperação, como o Banco
Mundial.
A
pergunta que vale um milhão de dólares é o que o mercado mundial de energia vai
fazer no pós-COP, a fim de cumprir a sua parte no ousado objetivo de impedir
que a temperatura do planeta aumente mais que 1,5ºC até o final do século.
Se por um
lado esse setor é o mais pressionado, por outro é o que conta com operadoras
gigantescas e poderosas do porte da Shell, da Petrobras, da Exxon e assim por
diante.
Há muito
dinheiro e postos de trabalho envolvidos, e – como se sabe – uma alteração tão
drástica de cenário traz riscos à economia, acarretando perdas volumosas de
recursos financeiros para uns e ganhos em igual proporção para outros. O mais grave: pode comprometer a oferta de
energia.
Um
primeiro passo foi dado, já durante a COP. O pacto pela redução das emissões de
metano, um gás de grande impacto no aquecimento de curto prazo do planeta, foi capitaneado
pelos EUA e contou com assinatura do Brasil e de mais de 100 países.
A imediata
redução nas emissões de metano atinge diretamente a produção do gás usado na
geração de energia elétrica e como combustível de veículos. A previsão é que, nos
próximos 5 anos, a contribuição do metano para o efeito estufa caia radicalmente.
O segundo
passo, mais complexo, prevê a descarbonização do setor de energia elétrica, e é
aí que entram os investimentos na construção de usinas para geração de energia
com o uso de fontes renováveis.
O mundo assistirá,
ainda na década de 2021, a um crescimento vertiginoso no número de usinas em
funcionamento para geração de energia hídrica (hidrelétricas), energia solar
(painéis fotovoltaicos) e energia eólica (cata-ventos).
Por fim, o
terceiro passo, também crucial, alude à eletrificação dos veículos utilizados no
transporte rodoviário de cargas e de passageiros.
Os
céticos vão continuar não acreditando, mas é bom começar a prestar atenção, o
mundo está em transformação.
*Professor Associado da Universidade Federal do
Acre, engenheiro florestal, mestre em Política Florestal pela Universidade
Federal do Paraná e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de
Brasília.
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