* Ecio Rodrigues
Como
muitos devem lembrar, o Brasil se recusou a sediar a COP 25 em 2019 – no lugar
do Chile, que se encontrava em ebulição política. A COP 25 terminou acontecendo
em Madri.
Não apenas
por essa desfeita à ONU, mas devido também a outras afrontas e trapalhadas por
parte do governo brasileiro, é bem provável que, de todas as vezes que
participou de conferências mundiais sobre meio ambiente, o país chegue à COP 26
em seu contexto diplomático mais fragilizado.
E,
evidentemente, não adianta manipular os dados sobre a destruição florestal na
Amazônia a serem exibidos na Escócia. Ao contrário, para que a tendência de
elevação do desmatamento venha a ser contida, devem ser apresentados números factuais.
Por
manipulação de dados entenda-se, por exemplo, fazer distinção entre
desmatamento ilegal e legalizado – no intuito de levar a crer que o primeiro
deve ser combatido enquanto o segundo seria aceitável, eis que realizado sob o
amparo do Código Florestal.
Não é
preciso dizer que, seja o desmatamento ilegal ou legalizado, os efeitos danosos
para o clima são os mesmos. Mas, a despeito de sua estupidez evidente, essa
estratégia vem sendo usada há tempos pelos gestores ambientais
brasileiros.
A cortina
de fumaça (assumindo-se o trocadilho) envolve ainda juntar informações sobre o
controle do desmatamento nos 6 biomas nacionais, de modo a acobertar o que realmente
interessa aos países, ao mundo e à ONU: o destino da Amazônia.
As
regiões nas quais a ocupação produtiva já se encontra amplamente consolidada –
como é o caso dos Pampas Gaúchos, do Pantanal, da Mata Atlântica e do Cerrado, 4
dos 6 biomas presentes em território brasileiro – apresentam dados anuais com baixa
alteração da paisagem florestal, que há muito foi substituída pelo agronegócio.
Dessa
forma, os levantamentos relacionados ao controle e monitoramento desses biomas,
que, por óbvio, são bastante favoráveis ao governo (pois, como dito, as
alterações na paisagem nativa se deram anos atrás) ajudam a mascarar a
realidade observada na Caatinga e, principalmente, na Amazônia.
Todavia,
sem desprezar os outros biomas e os esforços do aparato fiscalizatório para
reprimir as irregularidades, o mundo não está preocupado com o inexorável processo
de inclusão da Caatinga nos domínios do agronegócio – e, sim, com a gravidade
da destruição florestal na Amazônia.
Por outro
lado, foi-se o tempo em que a ONU e os países se deixavam levar pela confusão conceitual
entre desmatamento ilegal/legalizado ou pela estabilidade das estatísticas de
controle do desmatamento em regiões de ocupação consolidada.
Enquanto as
demais nações que assinaram o Acordo de Paris e que estarão representadas na
COP 26 serão cobradas em relação à alteração de suas matrizes energéticas, a
fim de substituir o petróleo por fontes limpas, do Brasil será exigido o
cumprimento da meta por nós assumida de zerar o desmatamento na Amazônia.
Assim, o
que o mundo quer saber é unicamente quando esse compromisso será honrado.
O fim da
destruição florestal na Amazônia é o passaporte dos brasileiros para o futuro.
*Professor Associado da Universidade Federal do
Acre, engenheiro florestal, mestre em Política Florestal pela Universidade
Federal do Paraná e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de
Brasília.
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